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Knausgard participará da Flip 2013 e vai compor a mesa “Ficção e Confissão”, com o escritor norte-americano Tobias Wolff | Divulgação
Knausgard participará da Flip 2013 e vai compor a mesa “Ficção e Confissão”, com o escritor norte-americano Tobias Wolff| Foto: Divulgação

Livro

Minha Luta – A Morte do Pai

Karl Ove Knausgard. Tradução de Leonardo Pinto. Companhia das Letras, 512 págs., R$ 49,50. Autobiografia.

Karl Ove Knausgard tinha 39 anos quando enfrentou uma crise existencial daquelas. Os escritor norueguês, presença confirmada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano, já era um autor de sucesso em seu país, onde levava uma vida estável, aparentemente feliz – esposa, três filhos e uma bela casa. Mas algo estava fora de ordem.

Talvez por estar com a idade em que seu pai, alcoólatra, havia abandonado a família sem olhar para trás, Knausgard acreditou que algo muito errado estava prestes a lhe ocorrer. Mas, em vez de largar tudo e sumir no mundo, hipótese que lhe veio à cabeça, o escritor decidiu buscar uma saída no próprio ofício. O da escrita.

Percebeu logo, no entanto, que precisava ir além de criar uma grande história. A narrativa dessa vez precisava ser a sua. Foi apenas quando deixou de lado seus pudores luteranos de compartilhar suas mazelas com o mundo, dando aos personagens os nomes de pessoas da vida real, de sua família, de amigos e conhecidos, que veio a catarse, o alívio que tanto procurava.

Essa jornada foi longa, caudalosa: 3.500 páginas divididas em seis volumes, em uma saga autobiográfica intitulada Minha Luta, cujo primeiro tomo, "A Morte do Pai", acaba de ser lançado pela Companhia das Letras no Brasil, aonde chega coberto de elogios de críticos mundo afora, que chegaram a comparar a epopeia intimista de Knausgard, hoje com 44 anos, a Em Busca do Tempo Perdido. a monumental obra de fundo memorialístico do escritor francês Marcel Proust.

Best seller na Noruega, onde vendeu 500 mil exemplares, número astronômico se pensarmos que o país escandinavo tem apenas cinco milhões de habitantes, Minha Luta gerou certo escândalo. Em terras protestantes, falar abertamente sobre temas pessoais, revelando detalhes sobre uma não tão feliz vida familiar, pode ser – e acabou se tornando – motivo de muito desconforto. Tanto que, hoje em dia, ele não fala mais com a família, exceto com a mãe e o irmão, que acabaram aceitando, depois de terem se revoltado com a iniciativa.

"A Morte do Pai", primeiro volume de Minha Luta, é tudo menos um livro sensacionalista. Pessoal, com certeza. Corajoso, pelo grau de autoexposição ousado pelo autor? Sem dúvida. Nunca vulgar. Pelo contrário. Seu texto é elegante, rico em detalhes e profundo em subjetividade, sem cair na armadilha do hermetismo, risco que todo autor em diálogo consigo mesmo pode correr.

Durante toda a narrativa o que se lê nas entrelinhas do belo texto de Knausgard é a busca do autor por esse pai ausente, mesmo quando ele ainda estava presente. Fica óbvio que, ao falar dessa figura tão nebulosa em sua vida, o autor na verdade está conversando consigo mesmo, em um mergulho literário com evidentes tons psicanalíticos. Tanto que a primeira parte da obra é toda dedicada à infância e à adolescência, minuciosamente narradas – ficamos sabendo como ele era ruim na guitarra e o fracasso que foi o primeiro sohw de sua banda.

Na Flip 2013, Knausgard participará da mesa "Ficção e Confissão", com o escritor norte-americano Tobias Wolff e mediação de Ángel Gurría-Quintana. O tema não poderia ser mais adequado.

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