Além da eternidade

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Marilyn Monroe, se estivesse viva, teria completado 80 anos no último dia 1.º de junho. Imaginá-la como uma senhorinha de cabelos brancos, daquelas de jogam bridge e vivem em condomínios fechados para idosos na ensolarada Flórida, é algo impensável. Como morreu jovem, aos 36 anos, legou à posteridade uma imagem que daqui há cem, 200 anos, deverá continuar povoando o imaginário da humanidade: linda, loira, sensual e algo desconectada do mundo material, como uma ninfa. Hollywoodiana até a medula.

Mas afirmar que nunca houve uma mulher como Marilyn Monroe, embora seja uma tentação, também é, no mínimo, um equívoco histórico e de percepção da cultura pop. De Jean Harlow a Madonna, passando por nomes como Mae West, Marlene Dietrich e Judy Holliday, jamais faltaram a a esse vasto universo deliciosamente volátil loiras curvilíneas e voluptuosas, capazes de mexer com a cabeça e brincar com a imaginação de homens e mulheres nos muitos cantos do planeta.

Maiores do que a própria vida, e reunindo em grande ou moderada dose, e numa só embalagem, erotismo e fragilidade, coragem e instinto, essas vênus platinadas foram e continuam sendo capazes de transportar o publico a um território povoado por sonhos, onde viver os próprios desejos, embora possa ser até ilícito e reprovável, nunca foi impossível. Por que, então, apesar de não ser única, e mesmo depois de 44 anos de sua morte prematura, Marilyn permanece um ícone tão poderoso e inabalável daquilo que de melhor e pior Hollywood é capaz de produzir?

Dar uma resposta à indagação acima é tarefa complicada. Marilyn, afinal de contas, só parecia simples do lado de fora, para os poucos tolos que a viam como uma loira desmiolada, fabricada sob medida para ser consumida de imediato e fadada a ser descartada quando outra musa oxigenada surgisse no horizonte.

Para compreender a dimensão do mito em torno da estrela, é preciso ressaltar que, antes de ser um símbolo sexual, Norma Jeane Baker (seu nome de batismo) era acima de tudo uma comediante de mão-cheia, uma comentarista impagável de seu tempo, os esquizofrênicos anos 50. Eram dias de Guerra Fria e de transformações de valores que desembocariam em movimentos importantes como a revolução sexual, o feminismo e a contracultura. O erotismo ao mesmo tempo potente e terno de Marilyn, portanto, veio bastante a calhar. Mas foi seu humor subversivo em tempos tão conservadores que preparou o terreno para o que estava por vir.