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O aspecto mais interessante da minissérie JK, cujo último capítulo foi ao ar na sexta-feira passada, foi ter revelado ao grande público quão deprimentes e tristes foram os últimos anos de vida de Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Depois do Golpe Militar de 64, o ex-presidente, que sonhava retornar ao Palácio do Planalto em 1965, para dar continuidade a seus projetos desenvolvimentistas, foi lentamente caindo no ostracismo. Muito por conta do firme intuito do militares em impedir, a qualquer custo, que Kubitschek pudesse ter algo próximo a uma vida pública. Identificado como simpatizante das "perniciosas forças da esquerda" representadas pelo presidente deposto, João Goulart, seu vice entre 55 e 60, JK passou a ser visto como uma ameaça à estabilidade da ditadura militar que aos poucos se consolidava para permanecer no poder por muito tempo.

Graças a um desempenho contido de José Wilker, o ex-presidente, que passou boa parte da segunda fase da minissérie global como uma figura unidimensional, sem maior complexidade, ganhou sangue e angústia. Deixou de parecer saído de um museu de cera. O ator conseguiu encontrar o tom certo para transmitir a perplexidade e o desolamento de um homem que, da noite para o dia, deixou de ser o brasileiro mais festejado de seu tempo para se tornar uma espécie de personagem errante em busca de um autor.

Infelizmente, o mesmo não pode ser dito do desempenho de Marília Pêra como Sarah Kubitschek. Desde que pegou o bastão de Débora Falabella, a mulher de JK (Wagner Moura) na primeira fase da produção, a atriz fez uso de uma estranha impostação de voz, extremamente afetada, solene, e uma composição física sempre elegante, mas a um passo da caricatura. Mais parecia a Coco Chanel que vem interpretando com sucesso nos palcos. Na fase final da minissérie, quando Sarah descobre o longo caso amoroso que o marido matinha com a apaixonada – e bem mais jovem – Marisa (Letícia Sabatella), Marília tenta dar a Sarah um tom mais descontrolado, histriônico. Não consegue. Sua atuação, sempre sem muita convicção, só ganha verdade nas cenas do funeral do ex-presidente, nas quais pouco fala e muito chora.

Melhor sorte tiveram personagens ficcionais mais periféricos, como o casal Salomé (Déborah Evelyn) e Leonardo (Caco Ciocler). Mais bem desenvolvidos pelo roteiro de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, os dois atravessaram décadas de desencontros, sempre atropelados pelo destino que insistia em separá-los. Atuações sutis e econômicas dos dois atores possibilitaram que os arcos dramáticos fossem mais convincentes do que os dos protagonistas. Foram destaques no elenco, ao lado de Luis Mello, Antonio Calloni, Alessandra Negrini, Dan Stulbach, Julia Lemmertz e Ariclê Perez.

O saldo final de JK foi positivo, apesar de tudo. Conseguiu, ainda que de forma tímida, desmitificar Juscelino, conferindo-lhe uma bem-vinda humanidade que com o passar das décadas se perdeu, cedendo lugar à simpática, porém um tanto oca imagem do charmoso "Presidente Bossa Nova".

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