A atriz Cécile de France interpreta Marie, jornalista que quase morre afogada no tsunami da Indonésia| Foto: Divulgação

O diretor Clint East­wood disse que o seu filme Além da Vida (confira trailer, fotos e horários das sessões) sonda o que há de­pois da morte sem se amparar em ideias religiosas. Ainda que não se refira especificamente a uma religião, a história acaba falando de crenças.

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Alguém que acredita em reencarnação pode achar o filme emocionante, com cenas que mostram o vidente George Lonegan (Matt Damon) conversando, por exemplo, com o irmão morto de um menino que não consegue lidar com a perda. Ou se identificar com a jornalista francesa Marie (Cécile de France) no esforço de compreender a experiência de quase ter morrido no tsunami da Indonésia.

Quem não acredita pode considerar o enredo um tanto ingênuo e certas cenas, descaradamente pensadas para a emoção fácil.

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Deixando a fé de lado, existem várias questões boas que o filme poderia abordar – uma delas é o fato de as pessoas abraçarem a ideia de haver um Além para seguir vivendo depois de perder alguém querido. Outra é como a sensação especial de ter sobrevivido a um desastre tende a se desvanecer com o passar dos dias.

Além da Vida passa longe dessas discussões. Ele é mundano demais para um drama que pretende discutir o sobrenatural. É difícil acreditar que o mesmo diretor de Menina de Ouro lança mão aqui de imagens batidas pelo senso comum – a luz, os vultos de pessoas contra a luz, o estrondo que acompanha cada incursão do vidente pelo mundo não material.

Em vez de dar espaço para o luto, a história prefere tratar do périplo do menino Marcus (interpretado pelos gêmeos Frankie e George McLaren) em busca de um canal de comunicação com o irmão morto – criando até situações engraçadas; e opta por ver como a jornalista francesa sofre preconceito ao querer escrever sobre a vida após a morte – ela chega a conversar com uma médica que explica fatos "científicos" relacionados ao Além na parte mais sonífera do filme.

Há ainda o dilema de George, o vidente que abomina o próprio dom de conversar com os mortos. Seria o equivalente a ver um filme do Super-Homem em que ele re­­clama dos superpoderes. É um drama distante que só faz sentido se você es­­tiver familiarizado com Krypton (neste caso) ou acreditar na existência de videntes (naquele).

Coisas boas

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Porque Eastwood é um senhor ci­­neasta, Além da Vida tem coisas boas apesar dos defeitos: a se­­quên­­cia do tsunami é surpreendente, a trilha sonora minimalista composta pelo diretor marca a memória e Matt Damon é um ator que se garante mesmo num pa­­pel ruim. GG