O compositor e cantor Zé Renato esteve em Curitiba na semana passada para participar da 25.ª Oficina de Música. É reconhecido por seu trabalho com canto e voz, principalmente dentro do Boca Livre, formação surgida no final dos anos 70, que emplacou sucessos como "Mistérios", "Toada" e "Quem Tem a Viola". Renato, capixaba de nascimento, interessou-se por música ainda menino, quando aprendeu a tocar violão, logo seguido de piano. Mostrou o talento para a voz somente com o Boca Livre. Também possui uma extensa trajetória como compositor, o que resultou em muitas parcerias, algumas delas retomadas na apresentação única de Zé Renato realizada na quarta-feira passada, em Curitiba, com a Orquestra à Base de Cordas do Conservatório de Música Popular Brasileira, sob a direção de João Egachira. Zé Renato já gravou oito trabalhos em sua carreira-solo, sendo o primeiro Fonte de Vida, de 1982, e o mais recente, Minha Praia, de 2003. Trabalhou cerca de um ano e meio em turnê com o jazzista norte-americano Al Di Meola. Também já teve suas composições interpretadas por Nana Caymmi, Leila Pinheiro, Zizi Possi e Lulu Santos, entre muitos outros. Ao Caderno G, Renato falou sobre sua experiência com o Boca Livre, composição e projetos.
Gazeta do Povo Chegou a receber convite para dar alguma aula na oficina deste ano?
Desta vez não.
Como canto ou composição poderiam ser ensinados?
Todas as coisas que eu sei, muito pouca gente me ensinou. Aprendi por observar e me arriscar. Já participei de algumas oficinas, duas vezes em São Paulo. A aula é o relato de uma experiência. É o que as pessoas podem esperar de uma aula comigo. Se isso pode servir para elas, é algo que eu posso fazer. Acho até que serve, porque há muita coisa que não depende das técnicas propriamente ditas, mas desse relato de experiência. A música popular brasileira é muito calcada no sentido da observação, da informação, de poder se informar a respeito. Às vezes você está fazendo uma coisa aqui achando que é grande novidade, mas o cara ali já tinha feito isso há 30 anos. Por isso, sou muito ligado à história da música e li muitos livros abordando isso, escutando discos temáticos. Até penso que poderia haver uma escola de canto popular, que possa passar essa experiência toda e que tenha esses conteúdos de história e prática. Talvez eu até seja um professor e não saiba.
Como foi e o que mudou com a retomada do Boca Livre?
O Boca Livre já teve várias formações nesses quase 30 anos de existência. Na última, eu não estava presente. Depois de uma pausa do grupo, fui convidado a retornar por Lourenço Baeta e Maurício Maestro. A gente retomou uma formação que é aquela que realizou mais trabalhos, discos, que é exatamente a formação do início, não a primeira, mas a do segundo disco para frente. Com David Tygel, Maurício Maestro e Lourenço Baeta. É uma formação que produziu muita música e fez muitos shows. Esta sendo bacana. Agora, o que mudou? Acho que foi a vivência mesmo, de cada um, de amadurecimento natural que acontece com quem faz música. Acho que a gente que vem tocando, vem fazendo, vem cantando, ganha um amadurecimento, não apenas da idade, mas das idéias musicais de maneira a enxergar a música como um todo, de ter uma visão talvez um pouco menos apressada. Quando a gente está mais novo, quer ter resultados muito imediatos. Então, hoje, a gente tem uma noção do que significa o trabalho em grupo e o que ele pode atingir. Sabemos que ele pode atingir muita gente. Existe um público e uma vontade muito grande de cantar junto.
Quais são os próximos projetos, individuais e pelo grupo?
Vai sair um DVD meu que gravei no ano passado, pelo selo Biscoito Fino, e em parceria com o Canal Brasil. E vai sair um DVD do Boca Livre. Nós iremos gravar em São Paulo nesse final de semana, que é uma parceria entre o Canal Brasil e a Universal. Esse DVD deverá sair na primeira quinzena de maio e o meu será lançado um pouco antes. O do Boca Livre vai ter um registro das músicas do repertório clássico, mas com algumas coisas novas também. Não necessariamente é uma marca do grupo gravar músicas próprias. A gente sempre fez questão de interpretar música de outros compositores com quem temos afinidade.
E o seu disco?
Eu tenho uma grande ligação com a composição. Esse DVD que irei lançar traz muita coisa que eu fiz, muita coisa recente, misturada a coisas antigas, mas muita coisa nova também. É algo que eu quis muito fazer, porque acho que a maioria das pessoas tem uma imagem minha muito ligada à voz e canto, ao passo que a composição é fundamental para o desenvolvimento da minha história profissional.
Como é esse processo de composição?
O meu processo de composição, seja ele aproveitado por mim, pelo Boca Livre ou pelo outro cantor, é muito variado. A única coisa que não varia é que não faço a letra. Com o Arnaldo Antunes fiz umas duas músicas que são composições em que eu musiquei os poemas dele. É um processo que gosto muito de fazer.
Você chegou a morar em Curitiba, não?
O meu pai era jornalista e ele veio chefiar uma sucursal aqui. Acabei morando na cidade. Deveria ter em torno de 16 anos. Estudei no Colégio Estadual do Paraná durante um semestre, que é o lugar que hoje abriga as aulas da oficina de música. Eu joguei bola naquele campo lá. Tenho uma identificação muito boa com a cidade. Conheci muito o (jornalista) Aramis Milarch, que era muito amigo do meu pai e a gente sempre estava junto, antes mesmo de eu virar músico. Depois que virei, aí sim é que nos aproximamos. Era um cara que transitava muito bem por essas áreas, o cinema e a música, um grande conhecedor. O primeiro encontro de pesquisadores da música popular em Curitiba foi ele quem fez, até onde lembro.
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