Exposição
Múltiplo Leminski
Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999), (41) 3350-4400. De terça-feira a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 6 e R$ 3 (meia-entrada). Entrada franca no 1º domingo do mês, durante todo o horário de funcionamento, e na 1ª quinta-feira do mês das 18 às 20 horas (ação Mais MON). Até 5 de maio.
"Um tom de laranja bateu três de cinza", comemora uma das filhas de Paulo Leminski, Áurea, sobre o fenômeno de vendas da antologia Toda Poesia. A vida e a obra do autor exposta na mostra Múltiplo Leminski, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer desde outubro do ano passado (que encerraria neste fim de semana, mas foi prorrogada até maio), também demonstra o interesse do público pelo escritor: no dia da inauguração, 600 pessoas visitaram o salão principal do MON, o "olho", um recorde entre as aberturas realizadas pelo museu. A pedido da Gazeta do Povo, Áurea, responsável pela parte de documentação da obra e da trajetória do pai, realizou uma visita guiada com a reportagem, e falou de detalhes que merecem a atenção do espectador.
Com curadoria de Alice Ruiz, que foi casada com o autor, junto com Áurea, direção musical de Estrela Leminski (também filha), e cenografia de Miguel Paladino, a exposição traz itens pessoais, linha do tempo e manuscritos do livro que é considerado a obra máxima de Paulo Leminski, Catatau, que tem uma parte específica na exposição. "O Catatau foi um divisor de águas, e que o levou a ser reconhecido nacionalmente", acredita Áurea. Repare no rigor técnico e em como Leminski se debruçou sobre o trabalho. "Observando os manuscritos é possível perceber o quanto ele trabalhou na obra, não foi algo que saiu somente da inspiração", analisa.
Outra parte indispensável é o local que Áurea apelidou de "sala proibida", um espaço fechado com uma cortina negra com a placa "não recomendado para menores de 12 anos". Ali, estão os roteiros de quadrinhos que o escritor fez para a revista Rose, publicação erótica produzida em Curitiba nos anos 1970, e que tinha como cartunistas nomes da arte paranaense como Rogério Dias, Solda e Rettamozo. "Os quadrinhos misturavam o erotismo com assuntos como a mitologia grega, tema pelo qual o Paulo era apaixonado e estudioso. Ele trazia suas referências acadêmicas até para o entretenimento", conta a filha.
Na área musical concebida por Estrela, há discos e fotografias com parceiros musicais, como Moraes Moreira, Caetano Veloso, Blindagem, entre outros, o que deixa claro que Leminski foi também um grande cancionista. "Muitas pessoas pensam que os poemas foram musicados, porém, ele fez diversas composições em que a letra e a música foram dele, como Verdura, interpretada pelo Caetano Veloso." Preste atenção nas músicas que são tocadas neste ambiente (em "Se Houver Céu", é o próprio Leminski cantando), e em um vídeo com um making of desta parte da mostra.
Biblioteca
As vitrines com obras do acervo pessoal também merecem atenção, pois mostram a dedicação de Leminski no aprendizado de línguas. Os dicionários são vários, com títulos de árabe-alemão, russo-espanhol, entre outros. Há publicações da Editora Brasiliense em que o poeta atuou como tradutor (de James Joyce e Samuel Beckett), clássicos da literatura mundial e livros religiosos como a Bíblia, o Alcorão (livro sagrado do Islã), Bhagavad-Gita (hindu) e o Torá, texto central do judaísmo. Não saia de Múltiplo Leminski sem observar a vitrine cheia de guardanapos assinalados. "Qualquer pedaço de papel servia para ele anotar as suas inspirações", destaca Áurea. A exposição será levada para Foz do Iguaçu (ainda sem espaço definido), no dia 24 de agosto, data de aniversário do poeta.