
São Paulo - O cineasta Abel Ferrara se enfureceu com a refilmagem de seu Vício Frenético, dirigida pelo alemão Werner Herzog (Fitzcarraldo) e estrelada por Nicolas Cage, que entra em cartaz nesta sexta-feira em Curitiba.
A reação é justificada. A produção é mais uma refilmagem inferior à obra original que, mais uma vez, levanta a questão: por que refazer bons filmes?
Simples. Produtores de Hollywood sabem que é menos arriscado investir em fórmulas gastas, porém já testadas, do que aventurar-se em histórias inéditas. O problema é que a maioria das refilmagens não chega aos pés dos originais.
Vício Frenético, de Ferrara, rodado em 1992, tornou-se um clássico. Estrelado por Harvey Keitel, mostrava a decadência moral, física e psicológica de um tenente da polícia de Nova York, em meio à investigação sobre o estupro de uma freira. O personagem de Keitel cheira cocaína, fuma crack, estupra e rouba enquanto tenta escapar de uma gangue de que é devedor. O diretor Martin Scorsese elegeu o filme um dos dez melhores dos anos 1990.
Já a versão de Herzog é um arremedo de filme policial, que a canastrice de Nicolas Cage transforma numa comédia. Herzog transferiu a história de Nova York para Nova Orleans, logo após a destruição do furacão Katrina. O policial de Cage investiga o assassinato de uma família de haitianos e acaba envolvido com traficantes e capangas que perseguem sua namorada (Eva Mendes).
O filme de Ferrara é desesperançado e sombrio. O personagem de Keitel vai se envolvendo numa teia de loucura e violência que, ao fim, se revela inescapável. Herzog, por sua vez, mudou toda a história, criando um final absurdamente improvável e ridículo. A atuação de Keitel é um espetáculo de degradação humana raramente visto no cinema, enquanto Cage parece um vilão de desenho animado.



