• Carregando...
Kadu Lambach e Boldrini no Quintana | Divulgação/ Cris Guancino
Kadu Lambach e Boldrini no Quintana| Foto: Divulgação/ Cris Guancino

Bateirista divide a semana entre o Rio de Janeiro e Curitiba

Unanimidade no meio musical curitibano (e nacional), o baterista Endrigo Bettega, hoje aos 38 anos, é apontado como um dos mais competentes e versáteis músicos brasileiros da atualidade. Parnanguara, viveu 9 anos na Europa e hoje passa a maior parte do tempo no Rio de Janeiro. Ele toca na banda de Antonio Villeroy (parceiro da cantora mineira Ana Carolina).

Leia a matéria completa

  • Glauco Solter e Sérgio Albach
  • Helinho Brandão: às quintas no Wonka
  • Marcelo Oliveira: independente
  • O
  • Paulo Branco: som no Bar Curityba
  • Conheça alguns dos palcos de Curitiba que apresentam música instrumental
Veja também

Fazer música instrumental brasileira em Curitiba não significa, como podem agourar os mais céticos, insistir na arte de tocar piano com teclas de borracha, de onde por mais que se esforce, não sai som. Se o cenário não é o melhor dos mundos, há palcos, sim. Sobretudo em bares – e existem músicos profissionais com reputação que extrapola as fronteiras estaduais e, em alguns casos, as divisas brasileiras.

Uma dessas vertentes é a música que dialoga com o jazz. O brasileiro, mestre na arte de improvisar, imprimiu algum "jeitinho" no gênero musical gringo. Desde o advento da bossa nova, nunca mais o jazz seria o mesmo. O trombonista carioca Raul de Souza conhece essas nuances e sabe o quanto Curitiba soa. Ele morou aqui entre 1958 e 1963, ganhou o mundo, há uma década vive em Paris e faz absoluta questão de subir aos palcos da vida acompanhado do quarteto curitibano NaTocaia. E, quando não viajam com Souza, Glauco Solter (baixo), Mário Conde (guitarra), Jeff Sabbag (teclado) e Endrigo Bettega (bateria) se apresentam no John Bull Pub.

O baixista Glauco Solter soma já duas décadas entre ensaios, álbuns, aulas e apresentações. O seu passaporte acusa passagem por Paris, Milão, Genebra, Boston, Túnis etc. – sempre a trabalho, no caso, a fazer esse som instrumental tão jazzístico e brasileiro. Ele acredita que Curitiba pulsa atualmente tão musical como jamais soou no passado, e aponta para o Conservatório de MPB (há mais de uma década a oferecer cursos) e a Oficina de Música (há muitos janeiros acontecendo) como marcos transformadores. O intercâmbio entre feras e iniciantes fomentou, germinou, floresceu.

Mudança de estação

Rainha Careca. Porto Velho. Bola 6. Cristal. Jam Jazz Bar. Original Café. Eis alguns dos extintos points onde foi, nota após nota, construída uma possível tradição curitibana, instrumentalmente falando. Entre aberturas e fechamentos de bares, baixas e altas temporadas, o saxofonista Paulo Branco, com três décadas de estrada, e sua banda Sotak comemoram o advento do Festival Jazz Brasil, que estréia na próxima quarta-feira (5), no Bar Curityba, com espaço para talentos de todas as paragens brasileiras. "Criamos uma maneira de fazer música instrumental. É o Brazilian jazz. Não há nada igual no resto do mundo."

Quarta-feira é, já há algum tempo, a noite do Brazilian jazz na capital paranaense. Se o John Bull Pub jogou a semente, agora o Bar Curityba reforça a idéia-força. Mas as noites das quintas-feiras, há três anos, também vêm sendo de muitas notas, acordes e improvisos com o Jazz Project, no porão do Wonka Bar. À frente da iniciativa, um veterano da cena local: Helinho Brandão. Músicos nacionais, de passagem pela cidade, costumam dar uma canja por lá. E o público, entre goles de cerveja e alguma fumaça de cigarro, prova que a linguagem instrumental não é sorvida apenas por quarentões – adolescentes já maiores de 18 anos costumam bater o pé e fechar os olhos em meio a solos e bossas mil.

Se no Wonka a "quinta-sonora" é tradição, no recém-inaugurado Quintana a mesma noite da semana também é de muita verve musical, com o duo Kadu Lambach (guitarra) e Boldrini (baixo). Lambach deixou o Rio de Janeiro no passado para fazer mestrado em música na capital paranaense, mas as oportunidades se fizeram tantas que o curso foi adiado. Ele leciona todas as tardes e se apresenta durante as noites. A prova de que há interesse pela música não-vocal pode ser medida pelo interesse dos garçons, que se tornam fãs dos instrumentistas antes do público. "É só ouvir (música instrumental) que a pessoa tende a gostar", afirma Lambach.

Amplo espectro

Entre a Orquestra Sinfônica do Paraná e inúmeros projetos independentes, a exemplo do Brasilidade e do Pé de Chinelo, Marcelo Oliveira e a sua flauta provam que a música sem letra e sem vocal pode tocar todo e qualquer coração humano. "Diferentemente da canção com voz, em que a letra procura resumir um conteúdo e induzir a determinada emoção, a música instrumental abre o leque para as percepções. Cada pessoa pode se emocionar de um jeito diante de uma mesma música não-vocalizada."

Mas nem só de Brazilian jazz soa a cena curitibana – Marcelo Oliveira que o diga. A outra vertente é a música urbana que surgiu em fins do século 19 no Rio de Janeiro, o chamado choro, que há uma década ressurgiu em todo o Brasil, incluindo Curitiba. E falar em choro na capital paranaense é mencionar o grupo Choro e Seresta, a feirinha dos domingos de manhã no Setor Histórico, o Beto Batata do Alto da XV e, sobretudo, os nomes do clarinetista Sérgio Albach e do violonista João Egashira.

De 2003, ano da fundação do Clube do Choro, até 2008, já são mais de 50 chorões (que é como se chama quem toca e vivencia o choro) em Curitiba. "O choro é a maior representação musical do Brasil." Quem aposta na afirmativa é Egashira. Albach também comunga da mesma crença e vai além: "Acho que esse Brazilian jazz é um formato desgastado, as pessoas se cansaram." Isso não quer dizer que haja uma guerra entre chorões e jazzistas em Curitiba. Ao contrário. Os músicos são amigos e dividem os palcos possíveis da cidade sem tensões.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]