O sol em torno do qual orbitam os eventos de Deixe o Grande Mundo Girar é um episódio que causou bafafá na Nova York de 1974, quando o equilibrista francês Philippe Petit andou sobre um cabo de aço de 64 metros de comprimento ligando as torres gêmeas do World Trade Center. (A proeza foi relembrada há pouco no documentário vencedor do Oscar O Equilibrista, de 2008.)
A descrição que abre o livro tem apenas seis páginas e o nome de Petit não aparece em momento algum, mas você chega ao fim dela com a certeza de que Colum McCann, o autor que está com viagem marcada para a Festa Literária Internacional de Paraty, é um escritor genial e Deixe o Grande Mundo Girar, um romance que você tem vontade de fazer todo mundo ler. Ao menos todo mundo que importa.
"O homem lá no alto permanecia rígido, e, no entanto, seu mistério era móvel", escreve McCann. "E então eles viram. Os observadores pararam, silenciados. Mesmo os que tinham desejado que o homem pulasse ficaram sem ar. Eles se encolheram e gemeram. Um corpo estava deslizando no meio do ar."
O episódio do equilibrista reaparece na narrativa entrecruzando as vidas dos personagens mais ou menos como num filme de Guillermo Arriaga, roteirista de Amores Brutos (2000).
O livro parte da relação de dois irmãos irlandeses que, ainda jovens, perdem a mãe para o câncer. Sem contato com o pai que os sustentava detalhe que a mãe sempre omitiu , os dois vão embora para Nova York, um depois do outro.
O mais jovem, Corrigan, é religioso a ponto de fazer parte de uma ordem e viver num antro em que ajuda as prostitutas da região com algo elementar: emprestando o banheiro para as necessidades delas.
Ciaran é mais velho e menos intempestivo. Vai para os Estados Unidos depois do caçula e encontra o irmão vivendo em condições terríveis, em meio ao submundo da cidade.
Corrigan tem um problema sanguíneo que o obriga a fazer transfusões com regularidade. No hospital, conhece a enfermeira Adelita e se apaixona por ela, vivendo um conflito entre o voto de monge e o desejo de se casar. Entre as prostitutas que usam seu banheiro, está uma avó com menos de 40 anos cuja filha também trabalha nas ruas. E assim os personagens surgem e ampliam o texto de McCann, que vai concatenando histórias pessoais que têm como ambiente Nova York, cidade que o irlandês McCann adotou 15 anos atrás.
Numa entrevista para a imprensa norte-americana, o escritor falou da vez em que tinha 9 anos e seu pai o levou para conhecer o avô moribundo em Londres. Foi o único encontro que tiveram.
Depois da visita, ele e o pai foram comer um sanduíche. A garçonete do restaurante, quando soube o motivo da viagem, deu ao menino um sundae de presente e fez um carinho na sua bochecha. McCann nunca esqueceu aquele dia e, sempre que vai a Londres, diz sentir a presença da mulher e sua generosidade.
O autor citou esse acontecimento para explicar que, na sua opinião, a vida é feita de pequenos momentos capazes de deixar marcas extraordinárias. "Pequenos momentos extraordinários" é uma descrição perfeita para Deixe o Mundo Girar. GGGGG
Serviço: Deixe o Grande Mundo Girar, de Colum McCann. Tradução de Maria José Silveira. Record, 378 págs., R$ 52,90.
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