Alheio ao êxito da estreia, Cícero lança novo álbum

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O primeiro disco do carioca Cícero Lins, Canções de Apartamento, é bem o que seu nome diz. Foi feito em casa, num conjugado de 25 metros quadrados. Depois, foi lançado na internet.

Mas a história que se seguiu foi outra. O álbum – um apanhado de canções confessionais calcadas na MPB e no indie rock – "viralizou", foi baixado 100 mil vezes no primeiro mês de lançamento e fez de Cícero um artista premiado, com shows marcados por todo o país. O número de downloads, Cícero calcula, passou de meio milhão.

Foi com esse histórico que o músico carioca concebeu Sábado, lançado há duas semanas: às voltas com uma expectativa difícil de ignorar e a necessidade de aproveitar o momento de visibilidade.

"Tentei não deixar a expectativa, que eu sabia que existia, influenciar na hora de fazer as músicas", conta Cícero, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. A cumplicidade que criou com o público de Canções..., explica o cantor, poderia assustá-lo na hora de fazer algo diferente. "Tentei não pensar nisso para conseguir me expressar de uma forma tão sincera quanto no primeiro disco", explica.

O resultado é um álbum que traz as marcas de seu compositor, mas explora sonoridades diferentes. Que, se não foi influenciado pelo seu êxito anterior no sentido de buscar novamente pelo sucesso, revela um artista desconfortável com a posição de porta-voz trazida por ele. Daí o repertório conter duas "fugas" – "Fuga N.° 3 da Rua Nestor" e "Fuga N.° 4", que diz: "A verdade dorme cedo".

"Não sei o que tenho que dizer como grande filosofia de vida. Estou aprendendo ainda", diz o cantor. "Quero fugir dessa posição. Vi pessoas tatuando minhas coisas no corpo. Imagina falar uma coisa e alguém tatuar no braço? Você começa a ter um senso de responsabilidade maior sobre o que está falando", explica.

Sem clímax e repleto de silêncios e timbres delicados, Sábado teve um ponto de partida conceitual – a sensação do fim de tarde nas diversas paisagens que conheceu na turnê de Canções.... "É um disco mais de rua, de dinâmica urbana", diz o músico, que investiu mais na poesia das canções neste trabalho – como em "Asa Delta", em que experimenta com poesia visual. "Quis pontuar coisas que viessem mais inconscientemente", conta.

Ainda fiel ao som de apartamento – desta vez, mais de um –, o disco tem participação de Marcelo Camelo e do músico capixaba Silva.