Quando foi anunciado que Tim Burton iria dirigir uma versão de Alice no País das Maravilhas (veja fotos e trailer) , a novidade foi motivo de festa tanto para fãs do cineasta norte-americano quanto da obra do escritor inglês Lewis Carroll. O diretor parecia a escolha perfeita para transpor uma história tão surreal, complexa e embotada de signos.
Talvez por conta dessa (imensa) expectativa que o filme de Burton incomode tanto e não de maneira positiva. Embora tenha lá seus momentos de encantamento e humor, Alice está mais para um mais para um Harry Potter de anáguas do que para Edward Mãos-de-Tesoura.
O roteiro, talvez na tentativa de resultar em um blockbuster com apelo para levar várias faixas de público às salas de exibição, se apropria da história de Lewis Carroll (sobretudo Alice através do Espelho) para reconstrui-la como uma espécie de jornada feminista com toques politicamente corretos. É uma produção dos estúdios Disney, voltada para toda a família, o que talvez tenha feito com que Burton tenha deixado bastante de lado sua marca registrada: o universo dark e gótico.
Alice, diferentemente do que ocorre nos livros, é construída ao longo da narrativa como uma heroína, aos moldes do paradigma identificado em inúmeras culturas e tratado pelo estudioso norte-americano de mitologia e religião Joseph Campbell no clássico O Herói das Mil Faces, base para roteiros de filmes que vão da saga Star Wars a Matrix. Só que, no caso de Alice, esse percurso de autossuperação da personagem parece forçado, incoerente com os textos que originaram o filme.
Aos 19 anos, Alice (Mia Wasikowska) está prestes a ser pedida em casamento quando um velho conhecido seu, ser que ela julga viver apenas em seus sonhos, chama sua atenção. O mesmo coelho que a atraiu ao País das Maravilhas quando menina ressurge e a atrai de volta ao absurdo mundo onde reencontrará o Chapeleiro Louco (Johnny Depp, que consegue emprestar uma bem-vinda melancolia insana ao personagem), a lagarta Absolom e as rainhas de Copas (Helena Bonham Carter, na melhor atuação do longa) e Branca (Anne Hathaway).
Os primeiros momentos de Alice nessa outra dimensão são mágicos. Mas, na medida em que se torna evidente que caberá a ela trazer para si a missão de vencer o Mal, o que a leva, inclusive a vestir uma armadura de guerreira medieval, a trama de Carroll vai para o ralo. Perde de vez seu caráter mais transcendente e anárquico, se transformando em mais um filme de aventuras cheio de efeitos especiais, sacrificando o que havia de insólito no universo do autor britânico.
O mundo surreal criado por Carroll, apesar de visíveis toques estéticos de Burton, alguns muito bonitos, surge menos delirante do que se previa. A tecnologia do 3D é excessiva e, por vezes, nem ajuda na evolução do enredo. Ao fim da projeção, resta uma frustrante sensação de que o invólucro é inadequado para o conteúdo, convencional e careta demais para ter sido resultado da união de talentos tão incomuns e especiais. GG
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