Há tempos um filme não era tão comentado, mesmo antes de sua estreia nos cinemas do Brasil. Isso porque, na Austrália, um hospital atendeu três pessoas que vomitaram incontrolavelmente durante a sessão. No Canadá e nos Estados Unidos, outras seis desmaiaram durante a projeção, obrigando o diretor Danny Boyle (Trainspotting) a se desculpar publicamente.
127 Horas (confira trailer, fotos e horários das sessões), novo filme do cineasta inglês, foi indicado ao Oscar em seis categorias incluindo melhor filme e estreia hoje nos cinemas de Curitiba trazendo toda essa expectativa por conta de uma cena-símbolo que resume a história real de Aron Ralston (James Franco, ótimo), alpinista norte-americano que resolve, sozinho, explorar um cânion de Utah.
Egoísta, mimado e destemido, o jovem se aventura pelas rochas até que uma pedra cai sobre seu braço direito, deixando-o imobilizado em uma fenda escura e estreita. Começam as tais 127 horas tempo que ficou preso e com elas uma série de fatores capazes de dar um bom ritmo a um filme estático por natureza, por mais convincente que seja a atuação de Franco.
Com pouca água e comida disponível, Ralston começa otimista, e tenta raspar parte da grande pedra com um canivete sem fio. Iça uma corda, faz uma alavanca. Nada. Com o braço e a mão já em processo de necrose, o jovem tenta manter a sanidade com a ajuda de boas lembranças de sua vida e criando factoides que o devolvem ao mundo real. Ele marca a hora diária que um abutre voa acima da fenda, por exemplo. Mas o alpinista aceita a derrota quando cria uma espécie de talk show nonsense em que reconhece a estupidez que fez. Então o inimigo, ali, já não é a grande pedra que prende seu braço, mas o egocentrismo que o fez sair de casa sem avisar sequer sua família. A liberdade virou prisão. Literalmente.
A trilha sonora é outro ingrediente fundamental. Criada por A.R. Rahman, vencedor do Oscar por Quem Quer Ser um Milionário? (2008), também em parceria com Boyle, as músicas são ironicamente divertidas.
Em meio a paranoias e ao confronto com seus próprios medos, Ralston toma a atitude mais importante de sua vida. Amputar o próprio braço, raciocina ele, é o único meio de sair vivo dali. E isso acontece de repente. Não há pausas dramáticas antes que Ralston rasgue seus próprios nervos, na embasbacante cena que fez pessoas passarem mal ao redor do mundo. Ela pode até lembrar Jogos Mortais. Mas o fato de existir um motivo vital para aquilo torna a cena, ao contrário da série de filmes gratuitamente sanguinolentos, digna de lembrança.
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