Cristiano Burlan não perde tempo. É paulista, tem 29 anos, e trabalha como ator e diretor de teatro. "Trabalhava", corrige. Há um ano e meio, veio da capital paulista para Curitiba, estudar na então recém-inaugurada Academia Internacional de Cinema. Já fez um videoclipe e seis curtas-metragens. Um deles, Os Solitários foi selecionado para a Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Atualmente, Burlan trabalha na conclusão do seu primeiro longa, intitulado Corações Desertos. Diz querer continuar trabalhando como diretor de cinema: "Não vejo minha vida fora disso".
Corações Desertos é um filme de apenas R$ 3 mil. Burlan convidou seus colegas e amigos da Academia para participar do projeto. "A gente trabalhou no sistema de cooperativa. Ninguém foi pago, mas são todos sócios do filme", explica Burlan. O produtor do longa, Gil Baroni, cineasta estabelecido em Curitiba (que lançará o curta Terra Incógnita no dia 3 de março, no Cine Novo Batel), calculou o orçamento teórico da produção em R$ 600 mil. "Se a gente conseguir captar esse dinheiro, todos vão receber", promete Cristiano.
O filme foi rodado apenas com o suor dos voluntários. Os gastos com transporte, alimentação e outras despesas mais urgentes foram cobertos pelos R$ 3 mil disponíveis. O formato empregado foi o HDV (padrão digital de alta resolução) e a aparelhagem técnica, quase toda emprestada. Uma vez pronto, o longa será inscrito em leis de incentivo e exibido a potenciais investidores, para arrecadar dinheiro suficiente para uma cópia em película 35mm. Até lá, poderá ser exibido em algumas das poucas salas que permitem a projeção digital no Brasil.
"O filme narra a última noite de um casal que não consegue se comunicar mais. A gente colocou a questão do desejo, do sexo, em paralelo a essa velocidade de imagens, o consumo exacerbado. Depois de saciar todos esses desejos, o que vem?", indaga Burlan. o diretor diz que procurou procurou "ir da forma ao conteúdo". Menciona o cineasta francês Robert Bresson e sua coletânea de aforismos, publicada em Notas do Cinematógrafo. Também lembra Michelangelo Antonioni e suas relações com o vazio .
"Escolas querem te fazer pensar que é necessário ter o conteúdo, o roteiro, para chegar à forma. Mas cinema é, antes de mais nada, a imagem. O roteiro é literatura. Esse é um dos grandes problemas do cinema brasileiro. Ele se tornou uma subdivisão da literatura, escravo do roteiro", argumenta. Isso não quer dizer o que o filme não possui roteiro. Ele existe e foi escrito pelo curitibano Artur Tuoto. O que o realizador pretende aqui é valorizar o papel da imagem.
A proposta pressupõe um trabalho detido com os atores. Foram escolhidos Ed Canedo e Janaina Spoladore, irmã da atriz Simone Spoladore. "O que eu procuro no ator é o tipo, o físico. É mais fácil procurar o personagem em alguém do que tentar transformar alguém no personagem", comenta. Elogia o desempenho dos atores escolhido e confirma que pretende trabalhar com ele no futuro.
Corações Desertos está em fase de pós-produção, recebendo ajustes de cor e trilha sonora.
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