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Mesclando refrões grudentos de vocais berrados e guitarras pesadas com influências metaleiras, intercalados a trechos de bases eletrônicas atmosféricas complementadas por rimas, scratches e samplers emprestados do rap, o sexteto californiano Linkin Park, atingiu, em pouco mais de sete anos de estrada, uma posição comercialmente invejável entre os nomes do rock mundial.

O disco de estréia, Hybrid Theory (2000), vendeu cerca de 18 milhões de cópias ao redor do mundo – grande parte delas adquiridas pelo público adolescente, encantado pela combinação de metal e rap (que apesar de praticada à exaustão em meados dos anos 90 por bandas como Faith no More, Red Hot Chili Peppers, é considerada novidade para os que engatinhavam de fraldas naquela época). Três anos depois, a banda repetiu a fórmula do sucesso em Meteora, que apesar de não ter atingido os mesmos números do début, fechou 2003 como o terceiro disco mais vendido nos EUA.

Eis que Mike Shinoda (vocal, guitarra e teclados), Chester Bennington (vocal), Joe Hahn (programações, samplers e beats), Brad Delson (guitarra), Dave "Phoenix" Farrell (baixo) e Rob Bourdon (bateria), todos recém-chegados à casa dos 30 anos, resolveram afastar-se do gênero que os trouxe fama e fortuna em seu terceiro álbum de inéditas, Minutes to Midnight (Warner, R$ 39, em média), lançado pelo grupo na segunda semana de maio, após um hiato de quatro anos sem trabalhos de estúdio (a discografia do sexteto conta ainda o CD/DVD ao vivo Live in Texas, um álbum de remixes e uma colaboração com o rapper Jay-Z).

Após um ano e meio enfurnados num estúdio em Laurel Canyon, Los Angeles, e depois de alguns adiamentos no lançamento do disco (o trabalho inicialmente chegaria às lojas no verão americano do ano passado), o Linkin Park juntou coragem para por à prova o que consideram uma "transformação musical" e "um afastamento do nu-metal", de acordo com comentários presentes no encarte do novo álbum. E as mudanças aparecem logo da capa de Minutes... que traz, pela primeira vez, a imagem de todos os integrantes da banda.

À primeira audição, notam-se outras diferenças: Shinoda improvisa suas rimas em apenas duas faixas (e até arrisca o vocal principal em duas músicas), as guitarras estão mais contidas em grande parte das canções e os scratches de Joe Hahn dão lugar a texturas eletrônicas mais elaboradas.

Mas tal "transformação", produzida por Shinoda em parceria com Rick Rubin (ganhador do Grammy 2007 na categoria produtor do ano), apesar de figurar no topo da parada européia dos cem álbuns mais vendidos e na primeira posição do ranking de países como Irlanda, Bélgica, República Checa, Hungria, Canadá, França, Alemanha, Itália, Croácia, Grécia e Polônia (no Brasil, o disco ocupa o terceiro lugar na lista de mais vendidos, de acordo com a Associação Brasileira de Produtoras de Discos), Minutes to Midnight não é tão inovador quanto pensam seus integrantes – o que, certamente, justifica a venda de 8 milhões de cópias ao redor do mundo desde seu lançamento.

A vinheta de abertura, "Wake", traz guitarras pesadíssimas, de andamento lento, que logo dão lugar à metaleirice da ganchuda "Given Up". Mas a inovação volta à estaca zero na emotiva balada "Leave Out All the Rest", seguida de "Bleed It Out", que bem poderia figurar entre as faixas de qualquer um dos álbuns já lançados pela banda.

A experimentação é de fato a marca de "Shadow of the Day", que (pasmem!) ecoa U2 (fase Joshua Tree) até a medula, precedida pela esquisita "Hands Held High", em que o nível de "experimentação" extrapola os limites do ridículo ao combinar rap, coral gospel intonando "amém" no refrão e bateria de marcha militar. Tal exagero faz até soar interessante a faixa "In Pieces", cantada por Shinoda, que remete à sonoridade do Postal Service, mas com vocal raivoso.

Tentar mudar é sempre bom, especialmente quando se chega aos trinta, mas no caso do Linkin Park, parece faltar substância e segurança, elementos encontrados no novo disco quando a banda se aproxima justamente do que vem tentando fugir: suas origens. GG

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