• Carregando...

A versão cinematográfica do musical Rent, que no Brasil foi lançado com o ridículo subtítulo Os Boêmios, pode não ser um filme fácil de ser assistido. Um dos maiores sucessos do teatro musical moderno, a ópera-rock de Jonathan Larson, livremente inspirada em La Bohème, de Giacomo Puccini, chegou às telas quase dez anos depois de ter estreado na Broadway. Segundo muitos, tarde demais para ser relevante.

Levado ao palco em 1996 com uma trama ambientada em 1989, o enredo da peça (e do filme) funciona como uma espécie de manifesto rebelde e anti-capitalista sobre arte, amor e morte nos tempos da aids. Em dias nos quais não havia um tratamento eficaz contra a doença, que ceifava, sem piedade, milhares de vidas todos os anos nos Estados Unidos e no resto do mundo.

Quando de sua estréia, Rent, muito por conta do discurso de tolerância étnica e sexual, foi recebido por público e critica com um entusiasmo semelhante ao gerado por Hair nos anos 70, como uma espécie de libelo contra o establishment. Passada uma década de seu lançamento, o impacto da história talvez seja outro, menos imediato, urgente. Muito em função da redução no índice de letalidade da aids, resultante da eficácia das novas gerações de medicamentos antivirais. Afirmar que Rent é uma obra datada, entretanto, parece ser um julgamento precipitado demais.

Apesar da direção de Chris Columbus, um tanto engessada e reverente às origens teatrais do texto, o filme merece ser visto. Há passagens vibrantes graças ao carisma do elenco, quase todo oriundo da Broadway (à exceção de Rosario Dawson), e aos excelentes libreto e canções de Larson. Os momentos memoráveis da produção são vários: as reuniões com o grupo de apoio a soropositivos; o número "La Vie Bohème" (citação direta à ópera de Puccini); e o tango imaginário em torno da personagem Maureen, dançado por seu ex-marido e sua atual amante lésbica.

Apesar de não ter obtido o sucesso esperado nos cinemas, o filme teve ótima recepção no mercado de locação e vendas de DVDs nos Estados Unidos, faturando quase o mesmo que havia feito no circuito exibidor. Possivelmente, os muitos fãs da peça vencedora dos prêmios Tony e Pulitzer preferiram ter o filme em casa a vê-lo nos cinemas. Faz sentido: os extras, contidos em um segundo disco, incluem cenas deletadas, documentário sobre a montagem teatral na Broadway e até um desfecho alternativo. São atrativos à parte que ajudam a compreender a importância e – por que não? – a atualidade da obra. GGG1/2

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]