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O sistema de co-produção tem sido a base da maior parte das cinematografias do mundo atualmente, excetuando-se Hollywood, que tem recursos próprios para alimentar sua grande indústria. É muito comum ver um filme trazer em sua assinatura as bandeiras de diversos países – isso também vem acontecendo com alguns títulos brasileiros como O Céu de Suely, de Karim Aïnouz (Madame Satã), que deve chegar em novembro nos cinemas, uma co-produção com a França, Alemanha e Portugal.

Se tem conseguido recursos em países europeus, o cinema nacional ainda não investe muito no trabalho conjunto com os hermanos latinos, apesar de já existir acordos do governo brasileiro com os países vizinhos nesse sentido desde 1989, com um documento assinado na Venezuela – outros convênios mais específicos, bilaterais, foram acertados nos últimos anos.

A primeira produção de grande porte do Brasil com um país latino acabou sendo realizada em conjunto com o México: Só Deus Sabe (Solo Dios Sabe) foi apresentado recentemente no Festival do Rio e também está na programação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa na próxima quinta-feira.

O longa-metragem, dirigido pelo mexicano Carlos Bolado, teve um orçamento de US$ 3 milhões. A contribuição brasileira está na produção de Sara Silveira – produtora e parceira de filmes importantes do cinema nacional como Bicho de Sete Cabeças e Cinema, Aspirinas e Urubus –, em parte da equipe técnica e na estrela do filme, Alice Braga, revelada em Cidade de Deus e que também se destacou em Cidade Baixa.

Bolado tem no currículo dois trabalhos muito elogiados: o documentário Promessas de um Novo Mundo, (co-dirigido com B. Z. Goldberg), indicado ao Oscar da categoria em 2002; e Baixo Califórnia, de 1998. O cineasta conversou com o Caderno G sobre a produção de Só Deus Sabe durante o Festival do Rio. "Conheci Sara Silveira por intermédio de Beto Brant e tivemos a idéia dessa co-produção. Só depois ficamos sabendo dos acordos entre os dois países. Enquanto ela cuidava da parte da produção, eu iniciava a pesquisa do tema, que história contar relacionada ao Brasil e ao México", revela.

O ponto de encontro escolhido entre as duas culturas foi o sincretismo religioso. "São os dois maiores países católicos do mundo. Eu já havia feito pesquisa para um documentário sobre uma santa cubana, e visitei vários países da América Central que têm culturas de origem africana. Também li muito Jorge Amado, apresentado por meu pai. Isso tudo acabou me levando a Salvador, onde iniciei a pesquisa para o filme", explica Bolado. O trabalho de pesquisa durou alguns anos, pois ele não conhecia o país. Visitou algumas cidades, set de filmagens brasileiros, festivais, viu filmes antigos (destaca São Paulo S/A, de Luiz Sérgio Person) e também leu muita literatura nacional (João Ubaldo Ribeiro, Clarice Lispector), além de livros de História.

Na trama, Alice Braga interpreta Dolores, jovem que mora em San Diego, nos EUA, onde estuda. Ela cruza a fronteira e vai a um bar da cidade mexicana de Tijuana, mas perde o passaporte e fica presa lá. Dolores conhece o jornalista Damián (Diego Luna, de E Sua Mãe Também), rapaz muito supersticioso e crente em vários santos, que lhe dá carona até a Cidade do México, onde ela precisa tirar um novo documento. A dupla vive um rápido romance, pois Dolores é obrigada a voltar ao Brasil por causa da morte da avó. É através dos objetos deixados pela avó que a jovem brasileira, antes descrente, começa a ter contato com o candomblé. Damián vem para o Brasil e muitas coisas acabam acontecendo ainda.

Segundo o diretor, a logística da produção de Só Deus Sabe foi muito complicada. Houve locações em San Diego, Tijuana, Cidade do México, São Paulo e Salvador. Cada seqüência tinha uma equipe local e, por isso, algumas vezes a barreira da língua atrapalhava. "Houve alguns problemas, às vezes a gente não se entendia no idioma, havia diferença da maneira de trabalhar no México e no Brasil, e também a coordenação foi feita a distância. E pelo orçamento reduzido, tivemos poucas semanas para filmar, não tínhamos como ficar viajando de um lado para o outro, foi um pouco difícil acertar as coisas", confirma o mexicano, que afirma ter aprendido muito com a experiência.

Só Deus Sabe já foi lançado no México e, de acordo com Bolado, tem conseguido boa resposta de público. O filme deve estrear no Brasil em novembro.

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