Jazz, marcenaria e o som agressivo do thrash metal.
Para um observador qualquer, uma dessas coisas não combina com a outra, mas para Nick Menza, elas tinham uma coisa em comum: ele as amava.
O ex-baterista do Megadeth teve um mal estar no palco sábado no Baked Potato, um pequeno clube de jazz em Studio City, Califórnia, enquanto tocava com seu trio de jazz progressivo OHM. Relatos dão conta de que se suspeita que o músico de 51 anos tenha sofrido um ataque cardíaco. Chegou morto ao hospital.
Muitos fãs casuais do Megadeth, a banda que veio a definir a carreira de Menza, podem achar sua presença em um clube de jazz confusa. Afinal de contas, Megadeth é uma banda agressiva de thrash metal conhecida por álbuns como “Rust in Peace”, “Youthanasia” e “Countdown to Extinction”, todos trabalhos nos quais Menza maltratou seus tambores como se fossem sacos de pancada. Eles podem achar ainda mais confuso que Menza estivesse lá para tocar jazz.
Está no seu sangue, contudo. Muito antes de gravar “Sympathy for Destruction”, o baterista tinha se formado sob a orientação de seu pai, o saxofonista de jazz nascido na Alemanha Don Menza.
Talento precoce
Don se juntou à big band de Buddy Rich na posição de sax tenor em 1968 e passou anos como membro da banda do “The Tonight Show” quando Johnny Carson ainda o conduzia. Sua carreira introduziu Nick a um gênero musical que continuaria a influenciá-lo mesmo depois de ter descoberto o heavy metal. De acordo com a revista do ramo “Ultimate Classic Rock”, Nick Menza tocou para o público pela primeira vez quando tinha dois anos e alguém o sentou no banco vazio de Jack DeJohnette – que tocou bateria para Miles Davis, Sonny Rollins e Herbie Hancock – durante um intervalo.
Buddy Rich, que tocou com Count Basie, chegou a tutorar Nick. Essa influência brilhou por através até mesmo de seu trabalho com o Megadeth. Dave Mustaine, o líder do Megadeth, disse em um comunicado: “enquanto músico, Nick tinha um odor jazzístico bem poderoso, imprevisível e que sempre entretinha.”
Depois de vários anos tocando como músico de estúdio, Menza foi solicitado a trabalhar como técnico de bateria pelo então baterista do Megadeth Chuck Behler. Quando Behler deixou a banda, em 1989, Menza assumiu seu lugar. Com a equipe, gravou vários dos álbuns mais populares da banda, inclusive “Youthanasia”, que alcançou a quarta posição na tabela da Billboard para os Estados Unidos.
Tumor
Em 1998, descobriu um tumor benigno em seu joelho e foi forçado a tirar um tempo para se recuperar. A banda o substituiu e, quando ele estava finalmente bem o suficiente para voltar a tocar, Menza mudou de foco e resolveu se dedicar aos seus dois filhos e ao seu interesse em marcenaria.
“Levei cerca de 10, 12 anos, para criar dois garotos”, Menza disse à revista Metalholic. “E é nisso que tenho estado durante todo esse tempo, criando dois garotos. Eu os amo até a morte, são meus filhos, e é trabalho, cara, é um trabalho de 24 horas por dia, sete dias por semana, com esses caras.”
Ele sustentava a si mesmo não tocando bateria, mas com marcenaria, fazendo e vendendo centenas de cajóns, disse em uma entrevista concedida ao site Pitriff. São instrumentos de percussão de origem peruana em formato de caixa frequentemente vistos no jazz com tom latino. Os músicos sentam-se na caixa e batem na sua face frontal, muito como bongôs.
“Não quero ser Nick Menza, o baterista do Megadeth”, disse. “Essa capítulo da minha vida está encerrado.”
Serra elétrica e braço mutilado
Isso não é para dizer que Menza não exibiu por vezes o comportamento que se espera de um baterista de heavy metal. Em 2007, ele quase perdeu seu braço em um acidente com uma serra elétrica. Precisou passar por cirurgia reconstrutiva, e placas de metal foram inseridas em seu braço, de acordo com o site Blabbermouth. Seis anos depois, ele leiloou a serra circular manchada de sangue, que foi emoldurada em vidro de museu junto com um raio-x de seu braço mutilado, reportou a revista Loudwire.
Ele se recuperou do acidente e foi tocar com diversas bandas, inclusive a homônima Menza e sua banda de jazz fusion OHM.
Mês que vem, sua autobiografia, escrita em conjunto com seu amigo de longa data J. Marshall Craig, deve chegar às estantes.