Os sonhos mais lindos sonhei... Se um arrepiômetro passasse pelo público neste momento, é provável que os ponteiros implodissem. A voz é, e será ao longo de fina seleção, de Elis Regina, mas a personificação da “maior cantora do Brasil”, para muitos, cabe à atriz Andréia Horta, em atuação magnética. Não se trata de um mimetismo detalhista de fora para dentro, mas também no sentido contrário. E essa entrega é o ponto alto de “Elis”, longa de Hugo Prata, diretor com vasta experiência em TV e videoclipes.

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Sem arroubos estilísticos, trata-se de uma produção cuidada: o roteiro, parceria do diretor com Luiz Bolognesi e Vera Egito, entrelaça, com sensibilidade, o percurso pessoal/profissional da cantora gaúcha, da sua chegada ao Rio, aos 19 anos, em 1964, à sua morte por overdose, aos 36 anos, em 1982. Como pano de fundo, a cena musical da época, reduto amplamente machista, e também seus entreveros com a ditadura militar.

Fiel ao temperamento explosivo da biografada, o filme privilegia os embates com parceiros da esfera pública e privada, com ótimas atuações: Gustavo Machado mescla as ambiguidades do produtor e primeiro marido Ronaldo Bôscoli; Caco Ciocler acerta o tom como o parceiro e segundo marido César Camargo Mariano, Lúcio Mauro Filho diverte como Miéle, Julio Andrade está impecável como o dzi croquete Lennie Dale, entre outros. Os diálogos podem ser mordazes, bem-humorados, prenunciar o trágico.

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A inspirada fotografia de Adrian Teijido registra alternâncias de climas e cenários - dos becos e bares mal iluminados da noite carioca à deslumbrante vista para o mar da casa da cantora, com esticadas por Paris.

Como acontece em cinebiografias, situações podem passar batidas e omissões são questionáveis, como a antológica parceria com Tom Jobim, presente apenas através de tímidos acordes de “Águas de março”. Mesmo assim, “Elis” pode configurar um reencontro emocionante com seus fãs, ou um encontro revelador para quem não a conheceu.