No ano que vem, o famoso espetáculo gaúcho Tangos & Tragédias, criado em 1984 por Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, e que já foi visto por mais de 1 milhão de pessoas, completará 30 anos. Mas a comemoração a uma data tão expressiva foi antecipada: a história do show, que fala sobre uma dupla de um país fictício chamado Sbórnia, ganhou os cinemas com a animação Até Que a Sbórnia Nos Separe, que estreou na 41.ª edição do Festival de Cinema de Gramado, encerrado ontem.
O filme, dirigido por Otto Guerra e Ennio Torresan Jr., foi o único gaúcho a integrar a mostra de longas-metragens brasileiros no festival, e tem tudo para ter uma boa receptividade tanto da crítica quanto do público: além da inspiração em um espetáculo extremamente popular, tem qualidade técnica de primeira e vozes de ilustres, como as de André Abujamra, Arlete Sales e Fernanda Takai. Porém, o filme, por enquanto, tem previsão de estreia, de acordo com a produtora Marta Machado, somente no Rio Grande do Sul, em dezembro. "Vamos concentrar todo o nosso esforço aqui, pois a possibilidade de público é maior. Depois, pensaremos em outras cidades."
Na história, um muro de concreto separa um pequeno país chamado Sbórnia do restante do mundo. O povo, então tranquilo e parado em um tempo confortável e alegre, é "atingido" pela modernidade. Uma fábrica que usa a matéria-prima da bebida mais consumida na Sbórnia, o Bizuwin (que é, na verdade, o chimarrão gaúcho), é aberta no país e acaba causando uma catástrofe.
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Na noite da primeira exibição do longa, que aconteceu na última quarta-feira, 14, no festival, uma equipe imensa, de mais de 40 pessoas, subiu ao palco para falar um pouco sobre a produção, e o diretor Otto Guerra brincou que ali não estavam "nem 10%" das pessoas que trabalharam no filme. Para ele, o Rio Grande do Sul tem algumas características que privilegiam a realização de animações, como a proximidade com a Argentina (que já tem tradição no gênero), além de profissionais qualificados. "É uma animação exuberante, que foi possível porque esses jovens trabalharam com muita vontade." Para ele, não só o RS, como o Brasil, podem se tornar polos na área em 20 anos. Um dos indícios é a boa recepção de filmes como Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi), que venceu o Festival de Annecy (a maior do mundo em animação), em junho. "O momento melhorou. Antes, eu não recomendava trabalhar com animação. Hoje, dá até para se alimentar e alugar um lugar para morar", brincou Guerra.
A jornalista viajou a convite da Oi.