De quem é a tarefa de fazer a “peneira” do que deve ser ou não lido por aí? Para a Travessa dos Editores, a atribuição é do mercado e do público. Um passo posterior, portanto, à gênesis do processo de publicação, quando quem põe o livro para rodar opta por este ou aquele escritor. É por isso que o Livro dos Novos II, coletânea de contos de 16 novos autores (entre 20 e 30 anos), será lançado às 19 horas desta quarta-feira (18) na Livraria da Vila do Shopping Pátio Batel, em Curitiba.
A obra é uma espécie de sequência do Livro dos Novos , publicado nos mesmos moldes em 2013. Mais de 100 contos foram enviados à editora, mesmo antes da certeza de que o Livro dos Novos II sairia do forno. Entre os autores selecionados estão Jadson André, repórter da Tribuna do Paraná; e Victor Hugo Turezo, trainee da Gazeta do Povo. Completam o time André Petrini, Daniel W. Conrade, Diego Samuel Binkowski, João Lucas Dusi, Julianah Dias, Lara Pastorello Panachuk, Lucas Silveira de Lavor, Mateus Ribeirete, Mateus Senna, Murilo Lense, Priscila Lira, Rafael Antunes, Rafael de Andrade e Thiago Lavado. O prefácio é de Daniel Zanella, editor do jornal literário RelevO.
“Gostamos do resultado do primeiro livro, de como repercutiu. Muitas portas se abriram para novos autores que ainda não tinham uma comunhão com as letras”, explica Adriana Sydor, responsável pela seleção e pela organização dos textos. A editora, que publicou Paulo Leminski, Jamil Snege, Rodrigo Garcia Lopes e outros, continua assim sua missão de olhar com atenção para a produção local, sem preocupações imediatas com o resultado financeiro. “Há quem questione a qualidade de tudo o que é novo. O preconceito com quem ainda não tem a pátina do tempo é muito triste”, afirma Adriana. O livro foi impresso na gráfica Reproset, em Curitiba. Mil cópias serão vendidas durante o lançamento do evento e, posteriormente, em livrarias da cidade.
Livro dos Novos II. Livraria da Vila – Shopping Pátio Batel (Av. do Batel, 1868). Dia 18 a partir das 19h. Os livros estarão à venda por R$ 30.
Se no primeiro livro a melancolia e um certo realismo desacreditado eram recorrentes nos textos, na nova coletânea a ironia e um cinismo discreto também movem alguns contos. Mais do que descobrir o novo James Joyce, a aposta ousada da Travessa dos Editores pode servir como um resumo geracional consistente, ainda que (naturalmente) inacabado.
“Havia uma identificação forte com temas mais obscuros e nebulosos. Não chegava a ser indignação, mas o reconhecimento de um estado melancólico”, concorda Adriana. “Neste ano, isso se repetiu, apesar de outros temas surgirem. É como se cavasse muito e se encontrasse quase sempre a mesma coisa”, diz a organizadora.
Aperitivos
André Petrini, por exemplo, aposta na narrativa clássica, quase romântica, no maduro “O Colecionador.” Daniel W. Conrade utiliza uma espécie de prosa poética despreocupada para falar do próprio ato de poetisar em seu “À Flor da Pele.” Lucas Silveira de Lavor trata de temas atuais em “Teatro do Ego”. Diego Samuel Binkowski, autor do surreal “Esperança”, diz que se inspira em Tolkien e JK Rowling (é geracional) para escrever, enquanto Mateus Ribeirete abusa da ironia nonsense para falar algumas verdades sobre a busca por relacionamentos. Quanto aos pratas da casa, Jadson André dá voz a motoristas de ônibus no seu ágil “Coletivo n.2”, e Victor Hugo Turezo cria uma narrativa tão humana quanto chocante (a vida não é assim?) em “Desobstrução e Degradação do Indivíduo.”
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