O poeta Manoel de Barros (1916-2014) deixou uma obra singular - com uma linguagem artesanalmente construída, sem se ater a convenções gramaticais ou sociais, mas sempre em busca da simplicidade, ele se tornou, com o passar dos anos, um cultor da palavra. É justamente esse detalhe delicado que marca a edição de Meu Quintal é Maior do que o Mundo, antologia que reúne poemas de todas fases do escritor e marca a transferência da sua obra para a editora Alfaguara.
Nos últimos livros, escritor Manoel de Barros contou com participação da filha
Nos últimos livros que publicou, o escritor Manoel de Barros contou com a participação de Martha que, artista, realizou delicadas iluminuras com sua interpretação da obra do pai.
Leia a matéria completaA seleção de textos foi feita por Martha Barros, filha do poeta, e o prefácio é assinado por José Castello, jornalista que, nos anos 1990, fez entrevistas com Manoel para o jornal O Estado de S. Paulo. Uma tarefa árdua, pois o objetivo da poesia do escritor, como observa Castello, “não é explicar, mas ‘desexplicar’“.
Uma atitude acertada é o livro não trazer, junto aos poemas, a época em que foram publicados e em quais obras - todos os detalhes estão no final do volume. Isso porque tempo, para o poeta, não seguia sua ordem cronológica - o que seria o livro da mocidade, por exemplo, se transformou em segunda infância, que é a forma como o poeta tratava de sua maturidade.
“Provavelmente, é uma poesia que se apega à infância, momento da vida em que todos os sentidos ainda estão por se fazer”, escreve Castello, no prefácio. “Seu olhar é sinuoso, e não reto. A razão ainda é uma quimera.”
“Minhas palavras se dão melhor no cisco do que no asfalto”, disse o autor ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2006. “Se dão melhor nas águas tristes do que nos salões (chamo de águas tristes aos brejos). Porque no cisco as palavras encontram os bichinhos de brincar: as formigas, a lesma, as lacraias e os lagartos. E nos brejos as palavras podem se encontrar com as rãs, os sapos, os caracóis e as pedrinhas redondas. No chão minhas palavras florescem. Eu não comando as minhas palavras. Elas que gostam do chão e das coisas desimportantes.”