A garota que, em fins de 1983, subiu como um foguete para o topo das paradas dizendo que queria apenas diversão agora canta as tristezas. Mas "Memphis blues", novo disco de Cyndi Lauper, estreia no selo independente Mercer Street Records (distribuído no Brasil por outro selo alternativo, Lab344) após duas décadas e meia de ligação com a poderosa Sony Music, é também uma afirmação de prestígio e de renascimento artístico e comercial. Recém-lançado nos EUA, o álbum estreou na semana passada no 26 lugar do "Top 200", a lista de mais vendidos da revista "Billboard".
"É uma jornada ao passado, o blues é a base de tudo o que nós cantamos, mesmo que você seja alguém que veio do rock ou do jazz. Voltei até Ma Raney, que não inventou o blues, mas botou-o na estrada e criou todo um estilo", explica, em entrevista coletiva postada no YouTube, a cantora, que investe no blues com o aval de alguns especialistas, em duetos com veteranos como B.B. King, Allen Toussaint, Charlie Musselwhite e Ann Peebles ou o jovem Jonny Lang.
Além das participações especiais de gente da área, Cyndi voou para Memphis, trabalhando com experientes músicos de estúdio presentes em muitos discos clássicos do blues e da música soul. O resultado é convincente.
"Desde 2004 que penso neste projeto e botei o nome "Memphis blues" para evitar confusões, já que é um álbum de canções de fossa ("torch songs"), mas Carly Simon já tinha lançado um disco chamado "Torch". Independentemente do título, sinto que agora estou pronta, eu realmente nasci para algum dia cantar esse repertório", acrescentou.
É possível. Aos 57 anos - ela nasceu em 22 de junho de 1953, no Brooklyn, em Nova York -, Cyndi já tinha experimentado, sem retorno comercial ou grandes ganhos artísticos, um passeio pelos standards no disco "At last", em 2003. Na verdade, após sua estrondosa estreia solo, no álbum "She's so unusual", com canções como "Girls just want to have fun", "She bop" e "Time after time" (esta, uma balada que foi regravada até por Miles Davis), no quesito sucesso comercial ela vinha perdendo terreno aos poucos.
Pode ter sido uma grande queda para quem, no início da era da MTV, rivalizou em popularidade com Madonna e tem mais de 30 milhões de discos vendidos. O que não a impediu de fazer outros interessantes trabalhos no percurso, incluindo "True colors" (de 1986, cuja canção-título renasceu este ano na trilha sonora de "Sex and the city 2" e desde 2008 também batiza sua fundação de apoio a gays, lésbicas e transgêneros) e "Sisters of Avalon" (1997), e se aventurar por outras áreas artísticas, trabalhando como atriz. No cinema, ela estreou na comédia "Vibes" (1988) e depois atuou, entre outros, em "Mrs. Parker and the vicious circle", "Life with Mikey" e "The opportunist"; na TV, com diversas aparições, ganhou um Emmy pelo papel de Marianne Lugasso no seriado "Mad about you", e está agora em cartaz como a cartomante Avalon Harmonia no seriado da Fox "Bones" e pagou seguidos micos no reality show da NBC "Celebrity apprentice"; enquanto, no teatro, debutou na Broadway em 2006, no papel de Jenny numa elogiada remontagem de "A ópera dos três vinténs", e agora escreve a música para a versão para o palco do filme inglês "Fábrica de sonhos".
Atualmente, além de embarcar na turnê de lançamento de "Memphis blues", que até o início de setembro passa por diferentes cidades dos EUA e do Canadá, Cyndi escreve sua autobiografia, que será lançada no ano que vem pela editora Simon & Schuster.
Com seu timbre esganiçado, meio infantil, Cyndi pode não ser a cantora ideal para o gênero, mas "Memphis blues" tem mais acertos que erros. "Early in the morning", clássico lançado por Louis Jordan, que ela regravou com o piano de Allen Toussaint e a guitarra e a voz de B.B. King, está entre os primeiros; assim como o dueto com a veterana cantora soul Ann Peebles em "Rollin' and tumblin'", de Muddy Waters. Mesmo nas quatro faixas sem convidados, "Romance in the dark", "Don't cry no more", "Down so low" e "Wild women don't have the blues", o disco se sustenta.
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