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Morreu nesta segunda (25) no Recife, aos 85 anos, o artista plástico Gilvan Samico, vítima de um câncer na bexiga. Nos últimos meses, Samico, que vivia em Olinda, foi internado uma série de vezes no Real Hospital Português, na capital pernambucana, mas médicos diziam que seu câncer era incurável. Seu corpo será cremado nesta noite no cemitério Morada da Paz, em Paulista, nos arredores do Recife. Um dos maiores nomes da gravura nacional, Samico foi aluno de mestres como Lívio Abramo, com quem estudou na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e Oswaldo Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio. Depois de uma temporada na Europa e de volta ao Recife, Samico se aproximou do escritor Ariano Suassuna e se tornou um dos maiores nomes de seu movimento Armorial, que juntava ícones da cultura popular nordestina à literatura de cordel. Samico se firmou no terreno da xilogravura criando alegorias de linhas fortes e de alto contraste ancoradas quase sempre em mitos e lendas da cultura popular nordestina. Embora no início da carreira tenha se influenciado pelo realismo social de Abelardo da Hora, sua produção depois se tornou mais depurada e precisa. "Ele era o maior xilogravador vivo no país", diz Vilma Eid, dona da galeria Estação, que representa a obra do artista em São Paulo. "Eu diria que ele deixa uma obra fundamental para a compreensão da arte brasileira, porque é um artista que foi buscar na raiz do povo a matéria para seu trabalho." Suas obras mais recentes, expostas na Estação no ano passado, são uma espécie de terceira via entre o movimento Armorial e a escuridão que observava na obra de Goeldi, mesclando enredos que "vêm de dentro", nas palavras dele, e amortecendo a estridência tropical de Olinda em composições mais fechadas, com ícones e estruturas talhadas com minúcia na madeira. "Comecei a tentar conter a imagem toda dentro do espaço, que ela ficasse toda ali", disse Samico em sua última entrevista à Folha de S.Paulo, em junho do ano passado. "Então a fusão da minha produção branca com outra mais negra levou a esse resultado que sigo." Num livro lançado também no ano passado, por ocasião de sua última mostra paulistana, Ariano Suassuna escreveu sobre "tino" de Samico "para distinguir as vozes legítimas de sua família espiritual" e sobre como ele abriu "veredas no terreno áspero e tirano da beleza".

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