No Paraná
Conheça alguns momentos marcantes da carreira do curitibano Alceu Bocchino:
O maestro regeu a Orquestra de Câmara da Rádio do MEC na inauguração do Teatro da Reitoria da UFPR, em 17 de outubro de 1958.
Foi o primeiro regente da Orquestra Sinfônica do Paraná, em 1985, e dirigiu diversas óperas no Teatro Guaíra, com destaque para Tosca, em 1989. Sua composição Suíte Miniatura está registrada no primeiro disco da OSP.
O maestro Alceu Bocchino conheceu a Lapa quando as paredes das casas ainda estavam perfuradas pelas balas disparadas durante o cerco da cidade. O curibano já havia lido sobre as atrocidades cometidas na Revolução Federalista no livro de um amigo, o pesquisador David Carneiro, que ganhou notoriedade na historiografia paranaense com a publicação de O Cerco da Lapa e Seus Heróis, em 1934. Foi a visita ao lugar da batalha, porém, que o sensibilizou a atender um antigo pedido do historiador e compor a Sinfonia Um Poema para a Lapa.
"David Carneiro cobrava desde a minha adolescência uma música que glorificasse a Lapa. Fiquei com isso na cabeça, por não sei quantos anos, até que um dia resolvi me atirar na composição", lembra o maestro. A sinfonia foi finalmente escrita entre 2001 e 2002, quando Bocchino já era um octagenário senhor.
O músico acredita que "a república tem um débito com a Lapa", por não lhe dar o devido relevo histórico. O maestro fez sua parte em favor da memória lapeana. Sua Sinfonia apresenta, no primeiro movimento, o avanço e o ataque dos maragatos (federalistas). "Eles entraram violentando mulheres, matando crianças, degolando pessoas. É o movimento mais enérgico, agressivo, mas tinha que ter um toque brasileiro, então pus ritmos do nordeste e caipiras", diz. O segundo movimento corresponde à trégua, ao qual se segue a "Oração aos Mortos" e o conflito final entre maragatos e pica-paus (republicanos).Este mês, aos 88 anos e com admirável bom-humor, Alceu Bocchino voltou à Lapa para ser homenageado no 138.º aniversário da cidade. E o maestro planeja regressar à cidade ainda mais uma vez este ano. Seu sonho é reger sua sinfonia no ambiente que a inspirou. "Na Lapa será mais comovente. Eu posso começar, mas não sei se acabo", diz emocionado.Melhor seria para o regente se o conjunto a acompanhá-lo fosse a Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP). Alceu Bocchino comandou a orquestra em seu concerto de estréia, em 1985, e atualmente é maestro emérito da OSP. "Não faço questão de reger talvez a minha obra sim, porque daria uma interpretação minha, seria mais autêntica , mas, gostaria que a OSP tivesse a delicadeza de me consultar de vez em quando quanto à programação, que não vai muito bem", lamenta. O músico aproveita para fazer um apelo ao Estado pela reestruturação do conjunto, "para que os músicos se sintam mais donos da orquestra". "A gente só quer uma programação digna", diz.Bocchino foi aluno de Heitor Villa-Lobos, Camargo Guarnieri e Francisco Mignone. Anos depois, foi sua vez de dar aulas a Tom Jobim. Nascido em novembro de 1928, o músico curitibano vive no Rio de Janeiro já há seis décadas e se considera um "curitiboca", não com aquela conotação pejorativa que o termo ganhou por aqui, mas como um híbrido entre um cidadão curitibano e carioca. Atualmente, as atividades como professor de jovens mastros e pianistas são as que mais movimentam sua rotina, "que está um pouquinho mansa", diz. ß Luciana Romagnolli
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