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Brasília causa estranheza ao primeiro contato. Largas e extensas avenidas, amplos gramados, a arquitetura modernista de Oscar Niemeyer, com seus prédios iguais (a maioria em formato de caixote), a cidade inteira dividida por setores (quadras residenciais, hotéis, áreas comerciais, etc.). Além de sua forma peculiar de construção, a capital federal também é um lugar ímpar por sua estrutura política (centro do poder brasileiro) e social (grande concentração de famílias de funcionários públicos, políticos e diplomatas). Quem mora lá, afirma adorá-la, mas há muitos que também falam de uma sensação de tédio total. Esse sentimento é o mote de A Concepção, filme nacional que estréia hoje em Curitiba.

A produção é o segundo longa-metragem do diretor "candango" José Eduardo Belmonte – que anteriormente realizou Subterrâneos, também sobre Brasília, não lançado comercialmente. A história fala de um grupo de jovens da classe alta, liderados por Lino (Milhem Cortaz, de Carandiru), Liz (a novata Rosanne Holland) e Alex (Juliano Cazarré, também estreante). Todos são filhos de diplomatas e estão entediados com a rotina da cidade. A vida deles muda completamente quando um rapaz (Matheus Nachtergaele, foto), que se autodenomina X, entra para a turma. Mais velho e espécie de guru dos demais, X cria um movimento chamado concepcionismo, que prega a morte do ego e da memória: cada indivíduo deve queimar sua identidade e se reinventar, criando uma nova personalidade a cada dia.

O tema poderia apontar para uma discussão mais séria, ultrapassando os limites do filme, mas o que Belmonte coloca na tela é apenas escapismo, com os personagens se envolvendo em bad trips regadas a muitas drogas e orgias. Ao contrário de algumas produções que devem ter lhe servido de inspiração – como Os Idiotas (Lars Von Trier), Trainspotting (Danny Boyle) e Amarelo Manga (Cláudio Assis) –, o diretor parece querer simplesmente chocar o público com A Concepção. Seu discurso hedonista vai se esvaziando ao longo da trama.

As principais qualidades do longa foram reconhecidas pelo Festival de Brasília do ano passado, que premiou a edição experimental de Paulo Sacramento (montador de Amarelo Manga e diretor do premiado documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro) e a ótima trilha sonora. GG1/2

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