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A crise econômica já afeta ou não o circuito da arte? "Crise é algo que temos de prever permanentemente", como diz Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake, mas parece ainda ser cedo para se dizer que já se reflete de forma incisiva no sistema artístico as ondas da retração da economia.

É certo que importantes instituições de São Paulo estão se preparando para que 2009 seja um ano um pouco mais difícil para a captação de recursos para suas mostras - grande parte delas realizadas por meio de leis de incentivo. "Estamos olhando 2009 com realismo otimista. Não vamos negar que vai ter uma redução do bolo de recursos destinado ao mercado cultural. A captação vai ficar mais competitiva, o que não é necessariamente negativo", diz Bertrando Molinari, superintendente executivo do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.

Por enquanto, instituições que já têm fechadas suas programações de 2009, como o próprio MAM, o Masp e o Instituto Tomie Ohtake, afirmam que a crise até agora não promoveu alteração ou corte de atividades que estavam planejadas. "Não afetou ainda a programação do museu. Podemos ter imprevistos com uma ou outra mostra, mas até agora todas as que foram programadas para o próximo ano estão com contratos assinados", afirma Teixeira Coelho, curador-chefe do Masp.

O Masp, apesar das muitas crises que o rondam, tem programadas nove atrações, entre elas, edição internacional do Festival do Minuto (março), mostras de Vik Muniz (abril), do chinês Yang Shaobin, da gaúcha Vera Chaves Barcelos, de arte contemporânea do Centro Galego da Espanha, além de exposições da programação do Ano da França no Brasil - Arte na França 1860-1960: O Realismo e Rodin e a Fotografia. "Apenas o projeto de uma mostra de arte contemporânea internacional para 2010 recuou", diz Teixeira Coelho, que acredita girar em torno de R$ 4 a R$ 5 milhões o orçamento para as exposições do ano.

O MAM também tem toda a sua grade acertada e entre os destaques de sua programação estão as mostras Jorge Guinle: Belo Caos (fevereiro), Fotografias da Coleção Auer (abril) e o Panorama da Arte Brasileira 2009, com curadoria de Adriano Pedrosa (outubro) Mas, como frisa Molinari, é preciso ver o perfil de cada instituição para se falar de captação. No caso do MAM, ele diz, 65% dos recursos são via leis de incentivo, 20% de negócios (loja do museu, cursos e dos clubes de gravura e de fotografia) e 10% de mensalidades de 800 sócios.

No Instituto Tomie Ohtake, em que todas as exposições dependem de patrocínio via Lei Rouanet, não se sente "nem um pouco" os efeitos da crise, como afirma Ricardo Ohtake. "Não paramos de conversar com empresas e elas estão vindo com muita vontade", continua. A programação do instituto prevê cerca de 18 mostras, entre elas, a de Dubuffet em maio, dentro do Ano da França no Brasil; da dupla Dias & Riedweg, em agosto; de Miguel Rio Branco em outubro; e a realização e exposição do Prêmio Novas Energias na Arte.

Por outro lado, Marcelo Araujo, diretor da Pinacoteca do Estado, diz que este momento está sendo bem difícil para a instituição que comanda. Não se pode dizer que todas as suas exposições propostas ocorrerão e ele diz que esta é uma "situação imprecisa". "Empresas, agora, estão adiando decisões, tendo uma postura mais conservadora.

O ano não acabou ainda, estamos com vários contratos no meio do processo, mas tendo uma dificuldade que nos últimos quatro anos a gente não tinha", afirma Araujo. À frente de uma das instituições mais dinâmicas e respeitadas, que conta com dois prédios para suas atividades (seu edifício principal na Praça da Luz e a Estação Pinacoteca, no Largo General Osório), a Pinacoteca do Estado tem programadas de 30 a 35 exposições para seus espaços. "O horizonte ideal para uma ação completa, com exposições, projetos educativos e publicações, seria com um montante de cerca de R$ 10 milhões", diz Araujo. A instituição tem com a Secretaria de Estado da Cultura contrato de gestão com orçamento destinado apenas à manutenção: para 2009 será de R$ 12,5 milhões ante R$ 10,5 para 2008.

A Pinacoteca vai abrigar, a partir de setembro, a mostra Matisse Aujourd’hui (Matisse Hoje), grande destaque do Ano da França no Brasil e com alto orçamento, em torno de R$ 3 milhões. Ela está confirmada, como afirma o diretor do museu, mas as outras duas exposições do evento previstas para ocorrerem na Pinacoteca ainda não estão: Fernand Léger e o Brasil e uma de fotografia, reunindo obras de Verger, Gautherot, Mauro Restiffe e Luiz Braga, entre outros. Ainda falando da agenda da instituição, até agora pode-se dizer que apenas as mostras de janeiro, Ami e Josef Albers (que abre dia 17 e também tem parte no Tomie Ohtake); de Chelpa Ferro e de Margaret Mee (abrem dia 25); e a de março, individual de Daniel Senise, estão confirmadas.

No campo do mercado de arte, que viu este ano o episódio do leilão milionário com obras de Damien Hirst, as compras também estão declinando. A marchande Raquel Arnaud, por exemplo, afirma que as vendas em sua galeria caíram em cerca de um terço nos últimos três meses. "Sinto que os colecionadores estão comprando menos, mas estão mais seletivos, apenas adquirindo o bom", diz.

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