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São 1,5 mil LPs e 500 CDs: “Nunca vão parar de ouvir música.” | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
São 1,5 mil LPs e 500 CDs: “Nunca vão parar de ouvir música.”| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

“Guenta aí, vou baixar o som”, avisa Horácio Tomizawa De Bonis. Vestindo uma camiseta azul com estampa da gravadora norte-americana Stax Records (Otis Redding, Big Star), ele diminui o volume do primeiro disco solo de Jack Bruce antes de tirar um arroz doce da geladeira vermelha e oferecer ao repórter. “Quero que isso aqui seja assim mesmo: como um cantinho da minha casa, onde podemos conversar sobre música.”

“Isso” é a Sonic – Especiarias Sonoras, nova loja de discos de Curitiba. São 1,5 mil LPs e 500 CDs, novos e usados, nacionais e importados. No acervo, há rock (alternativo, progressivo, “inclassificável”), esquisitices deliciosas como álbuns de grupos etíopes, um tanto de música brasileira, além de soul e afrobeat, estilos que voltaram à baila por esses dias – ao menos em festas nos bares da Trajano e da São Francisco. Apesar da crise, a Sonic abriu as portas no último sábado. É a segunda empreitada musical de Horácio, antigo proprietário da 801 Discos, cuja loja na Rua Duque de Caxias marcou época entre 1991 e 1999. Desde então, trabalha “de casa”, como importador de LPs e CDs. Tem clientes fieis.

Veja imagens da loja

-14,4%

Foi a variação na receita da venda de CDs entre os anos de 2013 e 2014. O mercado movimentou R$ 159 milhões em 2014.

Fonte: ABPD.

40,6%

Foi a participação dos suportes físicos (CDs e DVDs) na receita total do mercado fonográfico brasileiro em 2014. A execução digital é responsável por 37,5%.

A experiência no ramo aliada ao estilo convidativo da Sonic são os trunfos para encarar os desafios de vender música em 2015. “Foi uma oportunidade única, principalmente pelo local bacana”, explica. A Sonic fica numa galeria no Centro de Curitiba. É um mezanino sobre uma loja de antiguidades. Você pode circular por entre prateleiras de LPs e gravadores, abrir gavetas com CDs, sentar para ler um guia sobre o soul, botar um som, tomar um café, pesquisar algo no YouTube ou ligar seu próprio laptop nas tomadas adaptadas. “Não é somente um lugar que vende coisas. É para encontrar amigos, trocar ideias”, diz o paulista radicado em Curitiba, fazendo lembrar uma cena do filme “Alta Fidelidade” (2000), em que uma música da The Beta Band serve como cupido para um affair improvável entre dois jovens que se encontram numa loja de vinis.

Sonic

R. Comendador Araújo, 143, loja 14 (Edifício Executive Center Everest), (41) 3324-2546. Seg. a sex. das 12h às 19h (qui. das 9h30 às 12 e das 13h às 19h); sáb. das 9h30 às 13h.

Para engordar o acervo, Horácio comprou parte da coleção de LPs de Rodrigo Barros Del Rei (o Rodrigão, das bandas Beijo AA Força e Maxixe Machine) e Carlos Oliveira, da antiga loja Jukebox – Temptations, Maracangália e CD Club eram as concorrentes, lá nos anos 90. Recentemente, viajou para Nova York em busca de raridades. E pensa, em breve, cometer um haraquiri afetivo. “Já estou me preparando para colocar parte do meu acervo pessoal à venda. Talvez 50%.” O próximo passo é pendurar um quadro negro gigante na parede da loja, para que as novidades musicais sejam oferecidas como se fossem o cardápio do dia. “Há toda uma campanha para levar as pessoas ao pessimismo. Não acho que as coisas estão no fundo do poço. As pessoas vão ao cinema, os bares estão cheios e nunca vão parar de ouvir música”, argumenta.

De binóculo

Quase jornalista (três anos de faculdade), quase historiador (dois) e design gráfico (um), Horácio também é produtor musical (Terra Sonora, Rogerio Gulin). O começo na música foi arriscado, com batismos de Mike Oldfield e King Crimson. Na década de 1980, levou até binóculo para acompanhar a performance do baterista da banda Siouxsie & the Banshees, em show em São Paulo. Horácio é desses.

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