O que se deve esperar de uma banda com mais de dez anos de estrada, boa parte deles trilhados no cenário independente, e cujo álbum mais recente bate no topo da lista de mais vendidos nos Estados Unidos? Com certeza, diversos tipos de expectativa recaem sobre o artista que consegue esse feito, mas é difícil imaginar que ele vá entrar em recesso por tempo indeterminado. Pois foi exatamente isso que Colin Meloy, líder do quinteto The Decemberists, resolveu fazer. Em fevereiro, poucas semanas após o lançamento de The King Is Dead, que chega agora ao Brasil, o guitarrista anunciou que seu grupo vai apenas concluir a atual turnê norte-americana para, logo em seguida, entrar num período sabático.
O objetivo de Meloy é dedicar-se à carreira paralela de escritor. Não deixa de surpreender, portanto, o fato de The King Is Dead ser o disco menos literário na carreira dos Decemberists, que vinham construindo uma reputação tanto pelas belas melodias como pelos versos extremamente rebuscados de suas músicas.
Ao abandonar o flerte com o rock progressivo, presente no álbum The Hazards of Love (2009), miniópera em que todas as canções obedeciam a uma única linha narrativa, e ao optar pela concisão nas composições, Meloy, Chris Funk (guitarra), Jenny Conlee (teclados), Nate Query (baixo), John Moen (bateria) acabaram gravando um disco mais acessível e de pegada mais pop. A semelhança com o R.E.M. dos anos 1980 não é mera coincidência: Peter Buck, guitarrista e integrante da banda veterana, contribui em três faixas.
A influência do folk, que acompanhava os Decemberists de forma sutil em ocasiões anteriores, fica mais clara, e a participação especial da cantora de country Gillian Welch em diversas músicas do disco acena às raízes da música popular norte-americana e também a ícones do folk rock, como Neil Young e The Band.
Dono da banda
Meloy é daqueles líderes que comandam praticamente sozinhos os rumos da banda. Daí que a sua decisão de afastar-se temporariamente da música obrigue também os demais integrantes do grupo, originário de Portland, Oregon, a buscar outras ocupações. Uma pena que o hiato dos Decemberists ocorra no momento em que lançam The King Is Dead, um disco que, diga-se, não conta com a saudável pretensão de trabalhos anteriores, mas, ao mesmo tempo, demonstra a maturidade de artistas que já sabem eliminar os excessos da própria produção.
Serviço
The King Is Dead, The Decemberists. EMI. Preço: R$ 29,90 (venda exclusiva pela Livraria Cultura www.livriariacultura.com.br). Rock.