Foi lindo de ver. Nesta sexta-feira (9) à noite, a plateia do Guairão estava lotada com jovens da periferia, ruidosos, as mãos cheias de pipoca e refrigerante, prontos para assobiar a cada movimento mais sensual do Balé Guaíra, que apresenta duas novas coreografias até domingo (11). À medida que o "Bolero" de Ravel ou o beat das ruas criado especialmente para a coreografia "Desvio" aumentavam a intensidade da dança, o silêncio baixava sobre as poltronas.
Foi um tanto hipnotizante para eles e para nós, demais espectadores. Não poderia ser uma oportunidade melhor: a primeira parte, "Desvio", de Airton Rodrigues, dialoga muito bem com o hip hop das ruas, brincando até mesmo com movimentos do break.
A iluminação fantástica, que simula grades e quadras esportivas no chão, ora espremendo os bailarinos num canto, ora os enviando para o fundo do palco, somada à batida eletrônica fez olhinhos permanecerem grudados.
O jogo de luzes também proporcionou um efeito em que o solista (em "Desvio", cinco mulheres dançam com um homem) recebe projeções em verde fosforescente, simulando desenhos feitos no computador.
Aplausos em pé.
Depois do intervalo, a cortina se abre para mostrar sete homens sentados em roda, o ambiente repleto de fumaça, como num bar. Em "Predicativo do Sujeito", rapazes jogam lenço atrás com as calças abaixadas, usando como lenço uma solista, que se estende pelo chão com seu ótimo figurino, composto de uma camisa masculina amarrada ao corpo e um chapéu de equitação.
Sons difusos, de uma máquina registradora, de cavalos relinchando e de caixa de mensagem do Facebook colorem a apresentação, que usa vários núcleos de atenção espalhados pelo palco.
Os movimentos diversos assustam de início, quando o espectador pensa: "Não consigo olhar tudo isso ao mesmo tempo!". Mas logo é possível entrar no jogo e relaxar.
As provocações em cena, que incluem simulações de luta e beijo entre homens eram saudadas com gritos. Correndo entre eles, a solista podia representar uma mulher rejeitada (o que dá a entender um texto falado ao microfone, numa experiência, ao que consta, inédita em produções do Balé Guaíra) ou o lado feminino, abafado, daqueles homens.
O "Bolero" de Ravel, tocado em sua infindável integridade, não é exatamente uma trilha inédita num espetáculo cênico. Mas seu crescendo contribuiu para a proposta do coreógrafo Alex Soares, que realizou essa obra para um grupo de São Paulo e agora o adaptou em Curitiba.
Na saída, foi impressionante a ordem que professoras de prancheta em mão conseguiram impor para transportar em segurança seus pupilos aos devidos ônibus fretados."Trouxemos 200 alunos entre os que tiveram o melhor desempenho no segundo bimestre", explica Joana Skrusinski.
Serviço:
"Desvio" e "Predicativo do Sujeito"
Teatro Guaíra (Praça Santos Andrade, s/nº), (41) 3304-7900. Dias 10 de agosto às 20h30 e 11, às 18 horas. R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Classificação indicativa: livre.
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