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Um grande circo instalado em prédios "brownstone" no sul da ilha de Manhattan, um fórum internacional para discutir a política verde, um parque temático para crianças e um eletrizante calendário de estréias, que começa nesta quarta-feira (25), numa festa que promete sacudir a cidade. O ex-vice-presidente Al Gore vai fazer discurso sobre a crise ambiental e apresentar a série SOS de curtas, com sete filmes, de diferentes diretores, sobre o aquecimento global. A sexta edição do Tribeca Film Festival é tudo isto e muito mais: vai agitar Nova Iorque com 157 longas e 88 curtas de 47 países. A mostra competitiva tem 18 títulos disputando o prêmio de melhor ficção e 16 de melhor documentário.

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"A série SOS de curtas foi feita por algumas das mentes mais criativas do cinema para popularizar e inspirar a luta contra o aquecimento global", disse Al Gore em nota oficial, "e abrir o festival, apresentando esta série, é para mim uma forma de colaborar para que esses curtas sejam vistos e tenham repercussão na imprensa mundial".

Os organizadores da mostra aplaudem a transformação do festival num fórum político.

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- O Tribeca é um festival político desde a sua primeira edição, já que ele foi criado como uma reação da cidade ao 11 de setembro - diz Jane Rosenthal, uma das fundadoras da mostra, ao lado de Craig Hatkoff e do ator Robert de Niro.

- Mas nunca abordamos a política de modo convencional e na edição de 2007 nossa meta foi democratizar cada vez mais a seleção de filmes, de modo a dar voz para cada comunidade e etnia que temos em Nova Iorque, assim como ser uma vitrine para cineastas do mundo inteiro, a fim de que os conflitos possam ter visões bem diferentes para serem apresentadas ao público.

Além do engajamento político, o festival 2007 tem várias estréias importantes para o mercado americano. Entre elas, está "O Homem-Aranha 3", no dia 30 de abril (a terceira première do filme, depois de Tóquio e Londres).

- Nós quisemos que o festival tivesse a programação mais ampla possível, desde um filme de vanguarda como o hermético "Passio", um ensaio cinematográfico sobre a música ao vivo de Arvo Part na Catedral de Saint John the Divine até um filme para a grande massa como "Homem-Aranha 3" - comenta Peter Scarlet, diretor executivo do Tribeca.

- Não posso pensar noutra mostra que abrigue exemplo tão opostos. Esta justaposição pode às vezes parecer surreal, mas queremos redefinir o Tribeca nesta direção, acolher as vertentes mais amplas e radicais do cinema atual.

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O diretor Martin Scorsese aposta nas grandes platéias e fez rasgados elogios a "Nuovomondo", filme fora da disputa. Dirigido pelo italiano Emanuel Crialese, conta a saga de um casal de imigrantes da Europa para Nova Iorque, ele italiano, ela francesa. O filme é estrelado por Charlotte Gainsbourg, a darling do momento na indústria cinematográfica européia, filha de Serge Gainsbourg e Jane Birkin.Outro filme muito aguardado fora da competição é o documentário "Brando", dirigido por duas mulheres, Leslie Greif e Mimi Friedman, sobre a vida de um mito de Hollywood, Marlon Brando. O filme reúne depoimentos inéditos sobre o superstar que passou boa parte da vida recluso, dados por Martin Scorsese, Johnny Depp, Al Pacino e muitos atores da geração do Actors Studio, além de mostrar cenas jamais exibidas do ator, como o teste que ele fez para ser o protagonista de "Rebel without a cause".

A seção cinebiografia tem também o documentário "Anita O’Day", que ficou pronto semanas depois da morte da cantora, em novembro de 2006. Dirigido pela dupla Ian McCrudden e Robbie Cavolina, o filme também traz depoimentos inéditos dos músicos que circundavam a maior intérprete de "Sweet Georgia Brown". Outra cinebiografia muito comentada é "Black white + gray". Trata-se de um documentário sobre a relação entre o fotógrafo Robert Mapplethorpe e o legendário curador de suas mostras Sam Wagstaff. Os dois, ao lado da roqueira Patti Smith, estavam no epicentro da vanguarda novaiorquina dos anos 70 e o documentário dirigido pelo americano James Crump mergulha fundo nos bastidores deste triângulo.

Mas, no quesito polêmica, a direção do festival aposta em "Alexis Arquette: she’s my brother", um documentário sobre o cotidiano de drag queen que ganham a vida em Hollywood, com destaque para a mais famosa, Alexis, que conta tudo sobre sua cirurgia para mudar de sexo. O filme do inglês Matthew Barbato é um provocativo documentário sobre transgêneros.

A edição de 2007 também se destaca pelo número de mulheres cineastas, algumas estreantes, entre os 30 filmes com direção feminina, como "Deux jours a Paris", de Julie Delphy. Isto mesmo: a estrela de "Antes do pôr-do-sol" agora não só estrela como produz, escreve o roteiro e dirige uma comédia sobre o namoro de uma francesa com um turista americano, com direito a todos os sustos do choque de culturas... O filme é falado em inglês e francês. É também destaque na seleção feminina o documentário de Tricia Regan chamado "Autism, the musical". Acompanha cinco crianças autistas em Los Angeles que escrevem e encenam uma peça musical surpreendente.

Os jurados para o prêmio de melhor narrativa ficcional são Chris Cooper, Edie Falco, Goran Paskaljevic, Catalina Sandino Moreno. Estarão julgando a categoria de melhor documentário Barry Sonnenfeld. Heidi Ewing, Whoopi Goldberg, Jehane Noujaim, Raoul Peck e Gideon Yago. Há também prêmios especiais para diretores estreantes e um concurso dedicado aos curtas, divididos em ficção e documentário. Elizabeth Banks, Lee Daniels, Thelma Golden, Quincy Jones, Dany Levy, John Leguizamo, Alfred Molina e Todd Wagner são jurados do concurso de curtas.

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Melhor ficção

Na luta pelo prêmio de melhor ficção, há um brasileiro, Cao Hamburger, com "O ano que meus pais saíram de férias". Ele vai disputar com filmes já premiados noutras competições, como "Lady Chatterley", versão cinematográfica do romance de D.H. Lawrence dirigida pelo francês Pascale Ferran, que ganhou cinco Cesars 2007, incluindo melhor filme e melhor atriz (Marina Hands). Ou como "Izobrazhaya zhertvu" (traduzido como "Fazendo-se de vítima"), do russo Kirill Serebrennikov, sobre um diretor de teatro que, como seu personagem Hamlet, tem alucinações com o pai. O filme russo foi vencedor do grande prêmio do último festival de Roma.

Há também filmes de diretores consagrados. O diretor italiano Paolo Virzi apresenta "Io e Napoleone" ("Napoleão e eu") sobre o exílio do imperador francês (vivido por Daniel Auteil) na ilha italiana de Elba, trazendo Monica Vitti como uma intrigante baronesa. O argentino Pablo Trapero mostra "Nascido y criado", sobre um designer de sucesso que, após sofrer um acidente, viaja até os confins da Patagônia para rever sua vida. O chinês Jia Zhang-he compete com "Sanxia Haoren" ("Natureza morta"), um perfil dramático de moradores de uma cidadezinha que perdem suas casas, naufragadas pelas águas do reservatório de uma usina hidrelétrica. O ucraniano Mira Muratova, conhecido por filmes de crueldade e perversão, exibe "Dva v odnom" ("Dois em um"), sobre a investigação da morte de um ator, que transforma a vida dos seus companheiros de elenco num inferno.

Enquanto isto, o "superstar" Leonardo Di Caprio escolheu o Tribeca para estrear o seu trabalho como produtor: "Gardener of Eden" ("Jardineiro do Éden"), de Kevin Connoly, conta a estranha aventura do vendedor de uma delicatessen que descobre por acaso pistas de um estrupador.

Há películas que surpreendentemente passaram pela censura de seus países, como "Ping Guo" (traduzido como "Perdida em Pequim"), de Li Yu, que gira em torno de um ménage-a-quatre envolvendo uma mulher, seu marido, seu chefe e a mulher dele. Talvez seja o primeiro filme chinês deste gênero. Outro que driblou os censores foi "Niwe Mung" ("Meia Lua"), dirigido pelo iraniano Bahman Ghobadi, que conta a história de um compositor curdo que busca entrar no Iraque para fazer uma apresentação musical, acompanhado de uma cantora iraniana, e descobre os muitos obstáculos para obter permissão para mulheres iranianas em shows musicais, depois da revolução dos aiatolás.

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O diretor libanês Gassan Salhab compete com "Atlal" (traduzido como "O último homem"), sobre um médico que se torna um serial killer, na Beirute destruída pela guerra. O tunisiano Nourid Bouzid mostra "Making of", sobre a formação de um homem-bomba. O cinema israelense comparece com "Hofshat Kaits" ("Meu pai e senhor"), de David Volash, sobre os conflitos de um rabino com sua família numa comunidade ortodoxa judaica.

Uma outra visão de guerra civil é dada pelo filme colombiano "Hacia la obscuridad". O diretor Antonio Negret fez um thriller policial para narrar a onda de seqüestros em seu país, dividido pelo embate entre o exército e os narcotraficantes. O filme conta a história de um jovem fotógrafo seqüestrado, que vê reduzirem suas chances de escapar com vida quanto mais ele se torna testemunha do cotidiano de seus algozes.

Três filmes ganharam muitos elogios do comitê de seleção. Um foi "Bes Vakit" (traduzido por "Tempos e ventos"), do turco Reha Erdem com música de Arvo Part, descrito como um poema visual sobre os sonhos dos moradores de uma cidadedinha montanhosa no interior da Turquia. O outro foi "Dos abrazos", estréia do mexicano Enrique Begne, sobre quatro personagens solitários que têm suas vidas entrecruzadas de modo dramático, na Cidade do México. E o terceiro foi o filme alemão, com título em latim, "Vivere", dirigido por Angelina Maccarone, cuja montagem fragmentada de uma viagem que envolve três personagens chamou a atenção dos jurados.

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