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Moreira começou tocando sanfona em festas de São João, para depois integrar um dos grupos mais importantes do país | Divulgação
Moreira começou tocando sanfona em festas de São João, para depois integrar um dos grupos mais importantes do país| Foto: Divulgação

Em detalhes

Saiba mais sobre os quatro primeiros discos solo de Moraes Moreira:

Moraes Moreira (1975)

Primeira gravação após sua saída do grupo Novos Baianos. Há certa melancolia – "Sempre Cantando" –, mas o tom do disco é de festa. Nessa época, Moraes tinha como principais referências Braguiha, Zé Kéti e Lamartine Babo, e se dedicava a estudar ritmos carnavalescos como o samba, a marcha e o frevo. Também no álbum está a releitura de "Se Você Pensa", sucesso na voz de Roberto e Erasmo Carlos.

Cara e Coração (1977)

Clássico de sua discografia solo. Lá está "Pombo Correio", música instrumental à qual Moraes deu letra. O músico reforça sua parceria com Armandinho, e mostra sua verve erudita quando regrava "Às 3 da Manhã", de Herivelto Martins. No lado B, a música "Davilicença" faz homenagem a Davi Moraes, seu filho e hoje companheiro de banda.

Alto Falante (1978)

Uma trinca de músicas em homenagem ao universo feminino abre o disco – "Fruta Mulher", "Crioula" e "Mulher". O futebol é tema em "Espírito Esportivo", e "De Tarde na Liberdade" se transforma em um baião daqueles sem avisar. Em "Alto Falante", se sobressai um seresteiro romântico, no estilo voz e violão, apesar dos teclados datados e constrangedores. Em "Pedaço de Canção" Moraes aposta num rock quadrado e em "Revoada", no então moderno frevo-rock.

Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira (1979)

O disco retoma a parceria com Pepeu Gomes na música título – "A casa é pequena, mas o coração é grande", escreve Moraes no encarte do álbum. A deliciosa "Pelas Capitais", em parceria com Jorge Mautner, traça um panorama geográfico-afetivo do Brasil, enquanto "Eu Sou o Carnaval" une de vez o compositor à maior festa brasileira.

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Em seu escritório no Rio de Janeiro, ele atende ao telefone e pede um minutinho ao repórter. "Estava vendo o vídeo do meu show no Psicodália", diz a conhecida voz metalizada. Moraes Moreira fez uma das grandes apresentações da sua vida, como ele mesmo disse, no festival realizado em Rio Negrinho (SC), no carnaval deste ano. No repertório, a íntegra de Acabou Chorare (1972), obra-prima da música brasileira, talhada pelos Novos Baianos, grupo que deixaria em 1975. "Foi doloroso. Vi a realidade cruel na minha cara e tive de conviver com a solidão até começar a retomar a vida", lembra o baiano, nascido há 66 anos em Ituaçu.

A sacudida na poeira e a volta por cima veio num pacote de 45 músicas, divididas em quatro discos. Moraes Moreira (1975), Cara e Coração (1977), Alto Falante (1978) e Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira (1979), seus primeiros álbuns solo, foram sua "reafirmação como artista, sua reconstrução aos poucos". Lançados originalmente pela Som Livre, os discos voltam ao mercado em uma caprichada caixa. A ideia foi do selo Discobertas, que há algum tempo vem, oportunamente, resgatando discografias de bambas da música brasileira.

"Isso daí é um pedaço da minha vida", diz Moraes. Se naquela época ficaram para trás Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, na nova fase ele fez tabela com Armandinho, Dadi Carvalho, Gustavo Schroeder – pouco tempo depois oficializados como a banda A Cor do Som –, além de parcerias com Mu Carvalho, Tom Zé, Antônio Cícero, Fausto Nilo... "Foram os meus novos baianos."

De tudo um pouco

É tarefa dura destrinchar os quatro discos, tamanha a abrangência de seus temas e referências – do mais sofisticado dos frevos ao rock setentão que tenta ser progressivo. Mas algumas coisas saltam aos ouvidos, mais de 30 anos depois. Em "Yogue de Ouvido", música subsequente à tão tocada "Pombo Correio", ambas do disco Cara e Coração, por exemplo, há uma homenagem tanto a Beatles quanto à dupla Roberto & Erasmo. "She loves you iê, iê, iê", canta Moraes. "A Jovem Guarda tocava essas coisas e eu queria fazer igual", diz o baiano. "Samba da Bahia de Todos os Santos" e "Hino Nordestino", do mesmo disco, revelam sua faceta regionalista. "Eram músicas de retirantes, para aqueles operários nordestinos que construíram o Brasil. A gente era operário da música. Não fui retirante porque seca nenhuma me obrigou a sair de casa. Só a seca de informação, porque queria mais. Queria o mundo", exalta-se.

Seus conhecidos scats e neologismos surgem em "Meiufiu", uma daquelas músicas de Moraes Moreira cuja melodia parece estar descolada de todo o resto. "Foi uma invenção dos Novos Baianos. Para as letras do Galvão, tinha que sair inventando métricas malucas", lembra.

Clássicos como "Guitarra Baiana" – trilha da novela Gabriela em 1975 –, "Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira" e "Crioula" revelam sua faceta pop, mais leve.

Apesar do resgate solo em boa hora, Moraes continua fazendo shows com músicas dos Novos Baianos. Promete agora as canções do disco Novos Baianos F.C. (1973). Não há como esquecer, enfim. "É uma sensação de permanência absoluta. Apesar de estarmos distantes, tem o nosso amor, que a história e a música preservaram."

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