Boêmios e seresteiros, comemorai. Nélson Gonçalves (1919-1998) e Altemar Dutra (1940-1983), duas vozes que definiram a música "romântica" brasileira, estão de volta em duas coletâneas lançadas pela Som Livre. São oito discos. Quatro de cada artista, totalizando 128 músicas 56 canções para cada.
Doze anos depois da morte do boêmio (Nélson faleceu aos 79 anos, devido a um ataque cardíaco fulminante) e 27 desde que o rei do bolero se foi (aos 43 anos, vítima de acidente vascular cerebral), a aposta da gravadora pode ser explicada ao se olhar para os números e para a história que essas vozes carregam.
Nélson Gonçalves é o segundo maior vendedor da história da música brasileira. São 65 milhões de cópias comercializadas. O boêmio só está atrás do rei Roberto Carlos, que já se perdeu nas contas são cerca de 80 milhões de discos vendidos só no Brasil. Talvez 120 milhões em todo o mundo.
Já Altemar Dutra, depois de se firmar como um dos mais populares cantores brasileiros das décadas de 1970 e 1980, levou a seresta e seus boleros à América Latina e aos Estados Unidos. Foi durante um show em Nova York, aliás, que ele morreu.
Simples
O material da Som Livre é simples. Não há encarte especial, nem maiores informações sobre o artista, a não ser o nome das músicas e seus compositores. As capas dos dois discos duplos de cada artista são iguais só a cor muda. Mas, nesse caso, o que importa é mesmo o conteúdo.
Uma seleção de duetos marca o primeiro disco de Nélson Gonçalves. Com Caetano Veloso ("Maria Bethânia"), Chico Buarque ("Valsinha"), Gal Costa ("De Meus Braços Tu Não Sairás"), além de Alcione, Zizi Possi, Angela Maria, Martinho da Vila e Maria Bethânia, a voz retumbante do cantor ressurge.
O Carlos Gardel brasileiro nasceu em Santana do Livramento (RS), mas mudou-se para São Paulo, onde foi criado. Trabalhou como garçom, engraxate, mecânico e jornaleiro. Fez da sua impulsividade um esporte e foi também campeão de boxe na categoria peso-médio, antes de se mudar para o Rio de Janeiro para tentar a vida como intérprete. A vida não é fácil. Nélson, que era gago, foi reprovado duas vezes no programa de calouros de Aurélio Campos. Sua trajetória de sucesso começou finalmente quando foi crooner do Cassino Copacabana Palace.
Em seus anos de glória, também cantou boleros e tangos como "El Día Que Me Quieras" e "A Média Luz". Mas foi com a emblemática música "A Volta do Boêmio" (de seu amigo Adelino Moreira), faixa de abertura do segundo disco, que se tornou nacionalmente reconhecido.
A partir da década de 1950, Nélson enfrentou problemas contínuos com a cocaína e chegou a ser preso em flagrante em 1965. Após abandonar o vício, continuou a gravar com afinco pelas décadas seguintes. Até a boemia ser interrompida definitivamente em 1998.
Altemar
Já a voz firme, porém melódica, de Altemar Dutra surge primeiramente com "Eu Nunca Mais Vou Te Esquecer", de Moacyr Franco. Grandes êxitos do mineiro, como "O Trovador", "O Bilhete" e a música pela qual é mais lembrado, "Sentimental Demais", todas de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, estão nos discos. Outros sucessos que levaram Dutra a cantar fora do Brasil são relembrados: "Sim" (na verdade "She", de Charles Aznavour) e "Hino ao Amor" ("Hymne à LAmour", de Edith Piaf e Margureite Monnot).
A cronologia de Dutra é parecida com a de Nélson Gonçalves. Rádios, boates, parceiros no caso do mineiro, o compositor João Amorim, que o levou para o programa Boleros Dentro da Noite, na Rádio Mundial, em 1963. As histórias, estas, acabaram, mas as vozes persistem.
Serviço
A Volta do Boêmio Vol. 1. Nélson Gonçalves. Som Livre. R$ 24,90.
A Volta do Boêmio Vol. 2. Nélson Gonçalves. Som Livre. R$ 24,90.
A Volta do Seresteiro Vol. 1. Altemar Dutra. Som Livre. R$ 24,90.
A Volta do Seresteiro Vol. 2.. Altemar Dutra. Som Livre. R$ 24,90.
Briga de Pochmann e servidores arranha imagem do IBGE e amplia desgaste do governo
Babás, pedreiros, jardineiros sem visto: qual o perfil dos brasileiros deportados dos EUA
Crise dos deportados: Lula evita afronta a Trump; ouça o podcast
Serviço de Uber e 99 evidencia “gap” do transporte público em grandes metrópoles
Deixe sua opinião