Morreu ontem, aos 87 anos, o artista plástico Arcangelo Ianelli, vítima de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado havia três meses no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Seu corpo está sendo velado na Pinacoteca do Estado. O enterro está marcado para as 11 horas de hoje no cemitério Gethsêmani, no bairro do Morumbi.
Um dos maiores nomes da pintura brasileira, o paulistano filho de imigrantes italianos teve uma trajetória consistente. Foi da figuração no início de sua carreira, nos anos 1950, à abstração geométrica dos anos 60. Manteve depois o cânone construtivo em telas de cor e luminosidade exacerbadas, na última fase de sua obra, que despontou na década de 1990. "Quando ele abstrai completamente a forma, e a luz e a cor têm uma atuação fundamental, ele chega a um requinte de pintura extraordinário, avalia Emanoel Araújo, ex-diretor da Pinacoteca do Estado, para a qual adquiriu uma tela do artista, e hoje à frente do Museu Afro Brasil.
"Ianelli é um temperamento sutil, silencioso, quase uma música de câmara. "Ele possuía um espírito naturalmente clássico, que procurava a beleza contida na harmonia, no equilíbrio, no acerto e não na rebeldia, afirma o crítico Olívio Tavares de Araújo, que fez três documentários sobre o artista. "Ianelli vai ficar como o pintor brasileiro que melhor conseguiu estabelecer uma ponte entre o sensível e a racionalidade, um mestre consumado em matéria de cor.
Depois de ter aulas com Lothar Charoux, Hermelindo Fiaminghi e Maria Leontina, nos anos 40, juntou-se a outros nomes de sua geração, como Manabu Mabe e Wega Nery, no grupo Guanabara, que retratou paisagens paulistanas dando grande destaque para a cor. Em 1964, ganhou uma viagem a Paris do Salão de Arte Moderna do Rio e instalou um ateliê na capital francesa. Quase dez anos depois, venceu o prêmio do Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de SP. Ao todo, participou de seis edições da Bienal de São Paulo. Para Tadeu Chiarelli, crítico e professor da USP, Ianelli foi o "grande herdeiro da pintura paulista, que seguiu a tradição ao mesmo tempo em que dialogava com novos experimentos da arte contemporânea. "Ele conseguiu superar os limites do ambiente paulistano, resume Chiarelli.
"Sua obra transcendeu essas circunstâncias." "Ele foi um grande colorista, um mestre da pintura, teve uma produção definitiva e, além de tudo, era uma figura especial, por quem todo mundo tinha muito carinho", lembra Marcelo Araujo, atual diretor da Pinacoteca, que fez em 2002 uma das últimas retrospectivas do artista. "É uma perda duplamente sentida, pela obra dele e pela pessoa que ele foi."
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