"Felicidad deixa de seguir o percurso do cigarro. Quando mais necessita de apoio fraternal, quando somente outra mulher poderia entender o que ela sente perto de um banheiro de damas, na estrada, depois de ter sido abandonada pelo recente esposo, aparece só essa mulher arrogante que antes lhe falava e agora lhe grita."
Trecho do conto "Mulheres Desesperadas".
Uma mulher que perde o marido repentinamente, e parece não se importar. Dois homens que reagem friamente à morte de uma mulher em um restaurante de beira de estrada. Noivas abandonadas que, além da perda, ganham somente desprezo. Esses temas, tratados na narrativa de forma breve, seca e veloz fazem parte dos contos da argentina Samanta Schweblin, que acaba de lançar Pássaros na Boca, primeiro livro da escritora publicado no país.
Pela antologia de contos, a autora de 34 anos ganhou elogios de nomes como Mario Vargas Llosa e foi apontada pela revista literária britânica Granta como revelação entre os melhores escritores jovens de língua espanhola, além de vencer, em 2008, o prêmio Casa de las Américas pela publicação. Ela também é considerada pela crítica herdeira literária de mestres de seu país, especialmente Adolfo Bioy Casares, mas também Julio Cortázar e, claro, Jorge Luis Borges.
Sua formação em cinema (pela Universidade de Buenos Aires) fica bastante evidente nos textos, extremamente visuais. É uma pena que os contos gênero literário que, aliás, costuma ser um tanto desprezado tenham demorado tanto para ganhar tradução para o português (do escritor Joca Reiners Terron) e serem publicados no Brasil. O ritmo alucinante dos textos que, ao mesmo tempo, têm um tom sóbrio e preciso, fisga o leitor nas primeiras palavras.
Logo no início do livro, surge o conto "Irman", onde dois homens, que parecem viajar por horas a fio e estão com uma sede desesperadora, param em um bar na estrada e encontram um atendente confuso, cuja esposa está morta na cozinha do local. A indiferença dos dois com a situação e o rumo que a história toma expõe talvez uma visão que a autora tenha sobre a natureza humana. Sem dúvida, ela parte do pressuposto de que as pessoas são cruéis e apáticas em seu cotidiano esse é, aliás, o tema central de todos os textos da antologia.
Desfecho
Não espere longas descrições de espaços ou situações devidamente explicadas, sejam elas no início ou no fim do texto. O que precisa ser dito por Samanta é colocado de forma concisa, mas não rasa: os elementos restantes estão na cabeça do leitor, e é isso que ela parece desejar criar. Sem dúvida, Pássaros na Boca é um dos livros mais interessantes entre a enxurrada de lançamentos atual. GGGGG
Serviço:
Pássaros na Boca Samanta Schweblin. Benvirá, 223 págs, R$ 29,90. Contos.
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