• Carregando...
Kadu Moliterno (Juba) e André de Biase (Lula) em cena de Armação Ilimitada: ícone dos anos 80 ainda impressiona | Bazilio Calazans/Divulgação
Kadu Moliterno (Juba) e André de Biase (Lula) em cena de Armação Ilimitada: ícone dos anos 80 ainda impressiona| Foto: Bazilio Calazans/Divulgação

Desde o fim do programa Os Trapalhões, em 1994, praticamente nada se salvava na programação dos canais (abertos ou pagos) no início da noite de domingo. Até maio deste ano, quando o Canal Viva começou a reprisar os episódios do seriado Armação Ilimitada, exibido originalmente na TV Globo en­­tre 1985 e 1988. As aventuras de Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biase) estão tatuadas na memória afetiva de quem, como eu, tem mais de 35 anos. Mas, graças à qualidade do texto e às inovações na linguagem, conseguem agradar também a quem é mais jovem.

Revendo o programa agora, eu me sinto um privilegiado por ter entrado na adolescência (dos 11 aos 14 anos) na companhia de Juba, Lula, Zelda (An­­dréa Beltrão) e Bacana (Jonas Torres). Ele era infinitamente melhor do que as atuais atrações dedicadas ao público teen – com a exaurida Malhação à frente.

Claro que muita coisa é datada, são símbolos dos anos 80 – das gírias ("chocante", "tô amarradão") ao figurino, passando pelos cenários e a própria estética –, e que a ação se concentra muito no universo da Zona Sul carioca, o que hoje causa um certo incômodo. Mas o texto, a edição e a linguagem ainda dão um ar moderno ao seriado. O time de roteiristas incluía feras como Nelson Motta, Antônio Calmon e Patrícia Travassos, e a edição, capitaneada por João Paulo de Carvalho, misturava diversos elementos da cultura pop (quadrinhos, videoclipe, pop art, metalinguagem, desenho animado, esportes radicais). Tudo isso sob a batuta quase infalível de Guel Arraes.

O resultado era (e continua sendo) impressionante: um programa ágil, com boas histórias, engraçado e com soluções muito criativas – as caracterizações do Chefe de Zelda Scott, vivido por Francisco Milani, por exemplo, são impagáveis: chamado de "nazista" pela subordinada, ele aparece gritando ordens em alemão, vestido de Hitler; quando ela reclama que o chefe está "sugando o seu sangue", ele surge transformado em vampiro, e assim por diante.

Armação Ilimitada também foi ousada por mostrar um triângulo amoroso institucionalizado, com muita naturalidade: Zelda Scott namorava Juba e Lula simultaneamente, e ninguém (nem o público) se importava. Ou seja, em 1985 ela já era tão atrevida quanto Aline, a série criada a partir da personagem de Adão Iturrusgarai, exibida em 2009 e no início deste ano.

Quem poderia imaginar que um projeto sugerido pelos próprios atores – Kadu Moliterno e André de Biase, que tinham trabalhado juntos na novela Partido Alto, em 1984 – continuaria revolucionando a televisão mais de 25 anos depois? Não é à toa que as noites de domingo ficaram muito mais agradáveis desde que a Armação voltou ao ar.

Serviço:

Armação Ilimitada. Domingos, às 19h15, no Canal Viva (36 da Net).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]