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Werneck: prosa enxuta e sofisticada em histórias cotidianas | Divulgação
Werneck: prosa enxuta e sofisticada em histórias cotidianas| Foto: Divulgação

Lançamento

Sonhos Rebobinados

Humberto Werneck. Arquipélago Editorial, 232 págs., R$ 35. Crônicas.

Todo o grande cronista costuma ter sempre à mão, ao menos, um bom par de obsessões. Assuntos inacabáveis aos quais a crônica insiste em retornar. As de Humberto Werneck são léxicas. Intrigam-lhe a origem e o sentido das palavras, e mais ainda, as coisas que não têm palavras que as definam.

Algumas das crônicas mais divertidas de Sonhos Rebobinados, o novo livro do escritor, narram investigações dele no estranho mundo das palavras.

Nelas redescobrimos a "flunfa" (o algodãozinho que o tempo forma nos umbigos) e conhecemos as "vibrissas" (os pelos nasais), entre outras tantas. Um dos personagens recorrentes é a "prima Solange, que adora falar difícil" e representa um ramo palavroso da família do autor em ótimas histórias.

Não é, porém, o bem-humorado horror do homem diante da língua a matéria principal desta coletânea de crônicas, segunda obra de Werneck pelo selo Arte da Crônica, especializado no gênero e do qual ele parece ser uma espécie de padrinho informal.

Cotidiano

A estrela aqui é a memória. Não a da nostalgia barata da "aurora da minha vida...". A memória das pequenas histórias comezinhas, da miudeza cotidiana, dos personagens incríveis que um atento e transeunte cronista viveu para contar.

Werneck é cronista puro-sangue. Sabe transformar em arte, com graça e erudição medidas, o lirismo desta pequena "arqueologia sentimental".

Tem como trunfo uma prosa enxuta e sofisticada que pode forjar trabalhando durante anos na imprensa. Na maior parte do tempo como editor de jornais e revistas importantes, um trabalho que exige saber escolher a palavra certa e cortar a desnecessária.

A literatura de Werneck consegue a proeza de conectar países literários muito diferentes.

Um Brasil atualíssimo ao qual ele se mostra muito bem antenado a outro remoto, o país das redações esfumaçadas dos jornais, dos encontros marcados com homens notáveis, como Fernando Sabino, os Irmãos Pedro e João Nava e das as "aves de arribação" mineiras voando alto no mundo literário do Brasil pré-golpe de 1964.

Sobreloja

O livro é uma reunião de 54 crônicas escritas e publicadas aos domingos no jornal O Estado de S. Paulo que, lidas em conjunto coeso, ganham outra estatura. Contador de causos nato, Werneck sempre mistura uma boa trama – como algumas esbarradas em Jean-Paul Sartre em Paris – com algum tipo de ensinamento, válidos especialmente para aspirantes a escritor.

Como o conceito da "vertigem de sobreloja": o sentimento de apoteose mental que faz o sujeito sentir-se no topo da glória literária quando mal subiu alguns degraus. "Paulo Mendes Campos quem disse: na carreira literária, a glória vem no começo; em seguida, o que há é um longo aprendizado para o anonimato", explica Werneck. GGGG

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