Arquitetura da luz no Centro de Curitiba

Quem estiver passando pelo calçadão da Rua XV de Novembro hoje à noite, por volta das 20h15, vai testemunhar um espetáculo inédito em Curitiba. E compreenderá a razão de ser da rebuscada estrutura de madeira e lâmpadas que há semanas vem sendo instalada no alto da movimentada quadra entre a Avenida Marechal Floriano Peixoto e a Rua Barão do Rio Branco.

Vídeo: Veja a Galeria de Luz na Rua XV

Concebida pelo italiano Valerio Festi, a armação, instigante visualmente pela variedade de formas que a compõe em sucessivos planos, traduz o conceito que o artista, poeticamente, chama de "arquitetura de luz". No caso curitibano, essa estrutura formará uma galeria onde será feita hoje a primeira de uma série de apresentações do espetáculo Desfile da Luz, fruto da parceria criativa entre Festi e a diretora artística Monica Maimone.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, Festi, natural de Bolonha, contou que o espetáculo tem como ponto de partida o momento no qual os Três Reis Magos, em 21 de dezembro, data do solstício de inverno (no Hemisfério Norte, quando ocorre a noite mais longa do ano), avistam a estrela-guia (ou cometa) que os conduziria à cidade de Belém, na antiga Galileia, local de nascimento do menino Jesus. "Esse é um acontecimento importante não apenas para o cristianismo, mas também para as demais religiões monoteístas, como o judaísmo e o islamismo", diz.

A pedidos de Festi da organização do evento, para não estragar a surpresa do público que comparecer hoje à noite à Rua XV, esta reportagem não entrará em maiores detalhes a respeito do conteúdo da encenação, que misturará música, dança, teatro e até números de caráter mais circense, como engolidores de fogo, sempre estabelecendo um diálogo entre tradições natalinas euopeias e brasileiras.

Trilha sonora

Para se ter uma ideia, Desfile da Luz conta como temas de compositores que vão do erudito Heitor Villa-Lobos ao experimental Tom Zé, passando por Ennio Morricone, gênio italiano das trilhas sonoras de filmes como A Missão, Era Uma Vez no Oeste e Cinema Paradiso.

O toque curitibano será dado pelos bailarinos da Companhia de Dança Masculina Jair Moraes, que fecham o espetáculo como os Elfos do Natal.

Kobe

O que Festi chama de "Arquitetura de Luz" não é uma invenção recente, muito pelo contrário. Desde a época barroca, grandes festividades europeias decoravam fachadas e criavam estruturas a partir da utilização de fontes de luz, que poderiam ser velas, fogos de artifício e, a partir do início do emprego da eletricidade, filetes de luz e de lâmpadas dos mais diversos gêneros, cores e modelos.

Sua primeira grande criação do gênero ocorreu em 1995, quando foi contratado para elaborar uma complexa e deslumbrante galeria de luz na cidade histórica de Kobe, fortemente atingida por um terremoto no ano anterior.

O sucesso foi tanto que, naquele ano, 3,4 milhões de pessoas passaram pelo corredor iluminado criado por Festi na cidade japonesa ao longo de 14 dias. Esse êxito fez com que a galeria fosse incorporada ao calendário cultural e festivo do país e, desde então, só ganhou popularidade: no ano passado, foram 8,4 milhões de visitantes.

No Brasil

Responsável pela arquitetura natalina externa das Galerias Lafayettes, grande complexo comercial em Paris, na França, e pela elaboração de espetáculos importantes, como a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Turim de 2006, entre muitos outros, Festi e sua equipe vêm trabalhando no Brasil há um ano.

Fizeram no Centro do Rio de Janeiro o espetáculo Ensaio sobre a Beleza, que abriu, em setembro último, o Momento Itália-Brasil. Em maio deste ano, na Praça Generoso Marques, elaborou, também ao lado de Monica Maimone, Mia Cara Curitiba, em celebração à imigração italiana.

Caderno G | 3:00

Na sequência de arcos com mais de 50 mil lâmpadas, bailarinas e malabaristas fazem belas apresentações.