Comparações entre igrejas e cinemas não são novidade. Martin Scorsese, diretor de O Avidor, disse certa vez que as salas de projeção são, assim como as igrejas, lugares concebidos para perpetuar a fé nas imagens e nos ícones. A vida do diretor era tão dividida entre os dois espaços que, quando jovem, ele não sabia se queria ser padre ou cineasta. Optou pela segunda vocação, para nossa sorte.
Hoje, a similaridade mais concreta entre os espaços está na decadência e substituição dos cinemas de rua por igrejas. Foi o que aconteceu com o Santa Helena, a maior das salas de exibição de Paranaguá. Fechou há 15 anos e deu lugar a uma Igreja Universal do Reino de Deus. O assentos trocaram de crentes, diriam os mais cínicos.
Mas esse cenário descrito acima muda a partir de amanhã. É quando a rede Cinesystem inaugura duas salas de exibição na cidade portuária. Não foi o caso de uma igreja virar cinema, mas de um mini-multiplex ir parar dentro de um supermercado.
Eduardo Vaz Pinto, sócio-diretor do Cinesystem, explica: "Em virtude de Paranaguá não ter cinemas e também não ter não ter shopping centers capazes de suportar a estrutura física de salas de exibição, o supermercado Condor entrou em contato com a gente e, antes de a obra ser iniciada, acabamos propondo uma alteração no projeto para abrigar as salas". Segundo Pinto, o caso é pioneiro no Brasil.
Em Ponta Grossa, o grupo exibidor mantém um cinema dentro de um shopping ancorado no edifício de um supermercado. "O caso de Paranguá, contudo, é inédito, porque é preciso entrar no supermercado para ir ao cinema", explica Pinto. Para o empresário, a iniciativa abre as portas para a criação de um público novo, rumo à descentralização da cultura. "A partir do momento você consegue viabilizar cinemas dentro de um hipermercado, você acaba criando um público potencial para cidades de menor porte, que não têm condições de ter um shopping, mas, às vezes, dispõem de hipermercados diferenciados que poderiam abrigar as salas", comenta.
O Cinesystem encontrou uma série de vantagens na parceria com o Condor, que não estariam à disposição no caso de uma empreitada isolada, como a abertura de um cinema de rua. "Hoje não há muitos cinemas de rua, porque eles não atendem a alguns pré-requisitos como segurança, conforto e praticidade. O hipermercado é o único ambiente que poderia colocar isso à disposição dos clientes, ou seja, um estacionamento coberto, ambiente climatizado, fluxo e segurança, minimizando o investimento", comenta Pinto.
A infra-estrutura das duas salas, uma para 170 e outra para 110 pessoas, mantém os mesmos padrões técnicos e de conforto de outros pontos da rede Cinesystem. As poltronas, dotadas de porta-copos e apoios de braço rebatíveis, são montadas em degraus (não em rampas, como nos cinemas antigos). O som tem compatibilidade com o padrão Dolby e a tela poderá receber o formato scope. A política de preços será a mesma de Curitiba (R$ 10, às sextas-feira e nos fimde semana; R$ 4, às terças), a não ser pelas segundas, quartas e quintas, quando o valor é de R$ 6, R$ 1 menor que na capital.
"Nossa perspectiva é criar novamente um cultura do cinema em Paranaguá. Vamos sempre ter grandes lançamentos, ao mesmo tempo em que eles entram nas maiores praças do Brasil", conta o empresário. Outra exectativa é a temporada de verão, quando o cinema poderá representar uma nova opção de entretenimento em dias de chuva e tempo ruim, atraindo público das cidades vizinhas. A projeção inicial é que o complexo atenda entre 20 mil e 30 mil pessoas ao mês. No mesmo período, com lotação máxima nas cinco sessões diárias de ambas as salas, o cinema poderá atender 90 mil pessoas.
Serviço: Cinesystem Paranaguá. Hipermercado Condor (R. Manoel Pereira n.º 1615 Paranaguá). Site: www.cinesystem.com.br.