Há pouco tempo, um adulto que dissesse que curtia e comprava quadrinhos certamente receberia olhares nada abonadores de seus pares. Afinal, as tradicionais HQs sempre foram vistas pelo grande público como algo voltado para crianças e adolescentes. Não se pode dizer que esse preconceito já esteja vencido, mas ele é cada vez menor nos dias de hoje, em que a arte seqüencial sim, arte! , voltada para os crescidos, ocupa um maior espaço nas livrarias nas quais têm até sessões específicas, dissociadas das revistas infantis , além de ganhar lojas especializadas, as chamadas comic shops.
As HQs também têm sido uma boa fonte para o cinema, não somente com os super-heróis tradicionais como o Batman, Super-Homem e Homem-Aranha, mas também através do trabalho autoral de criadores como Frank Miller (Sin City e Os 300 de Esparta) e Alan Moore (V de Vingança, Do Inferno e, futuramente, o clássico Watchmen).
Para debater o bom momento dos quadrinhos adultos no Brasil, sua chegada às livrarias e o interesse do público, o Caderno G conversou com alguns profissionais envolvidos diretamente com a área. Para os representantes da Devir Livraria e da Pixel Media, duas das principais editoras brasileiras especializadas em HQ (outra importantes são a Conrad, Opera Graphica e Via Lettera), a situação atual não é um modismo, mas uma evolução normal de um público leitor que começou com os quadrinhos quando criança acompanhando, principalmente, os de super-heróis e, depois de adulto, está à procura de um produto mais aprimorado.
"Em um dado momento, esse leitor acaba buscando algo mais, seja por temática ou por qualidade do produto. Se ele tem a tendência a se tornar um colecionador, vai buscar um livro mais bem impresso, com bom acabamento, algo para colocar na estante. É uma segunda etapa de um leitor de quadrinhos. É esse público que está encontrando o seu nicho com a publicação de quadrinhos para as livrarias", comenta, Leandro Luigi Del Manto, editor da Devir.
Mas Odair Braz Junior, editor-chefe da Pixel Media, aponta que o público de HQs tem sido pouco renovado no Brasil. Ele lembra que do fim dos anos 70 até o início da década de 90, os quadrinhos de super-heróis eram muito fortes e populares no país.
"O pessoal que colecionava quadrinhos nessa época deixou de acompanhar os quadrinhos de heróis por vários motivos, alguns deles por não conseguir acompanhar as histórias, que ficavam cada vez mais complicadas. E muita gente voltou exatamente agora, porque estão sendo publicadas histórias mais fechadas, que não exigem que o leitor tenha acompanhado dez anos de quadrinhos para entender as tramas", revela Braz, lembrando de uma das características do material que vem sendo encontrado nas livrarias atualmente. Essas HQs estão sendo lançadas no mercado brasileiro em edições caprichadas com capa dura, impressas em papel diferenciado e... caras.
Para Rodrigo Fonseca jornalista e crítico de cinema do jornal O Globo, que já trabalhou como editor de quadrinhos da Ediouro e consultor da Pixel Media, além de ter editado uma página de quadrinhos no Jornal do Brasil esse investimento em edições mais luxuosas não diz nada. "O quadrinho se paga por sua leitura, pela qualidade do desenho, pela força dos roteiros. Isso tudo que está aí é perfumaria. Nada é mais pobre do que a edição de um mangá, e eles vendem muito no mundo inteiro", opina, avaliando que apenas algumas grandes obras imortalizadas, como O Cavaleiro das Trevas (de Frank Miller) justificariam uma edição especial. "Editar bem quadrinho é contextualizá-lo na história. E isso quase ninguém faz no Brasil", continua.
Ainda sobre a formação de público, Braz lembra que, hoje, as crianças brasileiras começam a ler quadrinhos com a Turma da Mônica e logo passam para os mangás ou param de ler as HQs. "Os quadrinhos voltados para crianças estão caindo no mundo inteiro, mesmo sendo da Disney, as tiragem são bem menores, é um material que não tem atingido o público infanto-juvenil", diz. "Acho que esse leitor de mangá continuará a ler mangá para sempre", continua Del Manto.
O editor da Devir diz não ser possível precisar se esse bom momento dos quadrinhos vai representar um aumento no público daqui para frente. "Quadrinhos continuam sendo materiais de entretenimento e o leitor tem hoje muitas outras opções, como colecionar DVDs, games", lembra. "As pessoas podem ser divertir de diversas maneiras e o quadrinho é uma delas. O dinheiro é limitado e as pessoas escolhem entre comprar um videogame, um ipod ou um quadrinho do Sandman", completa Braz Junior.
Futuro
Del Manto, da Devir comenta que o mercado de quadrinhos adultos nas livrarias continua pequeno, mas que talvez se chegue em um ponto em que as HQs vão competir no mesmo mercado com os livros. "Estamos disputando um espaço diferente daquele da banca. É um mercado interessante porque se trabalha com um preço de capa mais alto do que na banca, com preço de livro. O mercado de livraria é interessante qualitativamente, trabalhamos com tiragens menores", revela.
Rodrigo Fonseca diz não ver o mercado com pessimismo, porque há grandes autores nos quadrinhos, e só isso merece que a área seja vista com otimismo. Mas acha que as pessoas estão lendo de uma forma equivocada a questão do quadrinho na livraria. "Ela é mais um ponto de vendas e está se achando que é a salvação. Não adianta nada essa profusão e euforia pró-livraria se não houver estilo para o pequeno consumo, para formar a base", conclui.
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