Visceral. É de lá, de algum lugar do meio das entranhas, que vem o talento de Denise Stoklos. A técnica da performer ajuda e muito. Sem isso, não seria ela considerada uma das melhores do mundo na sua arte. Só que mais do que representar, fazer caretas, domar o balé dos seus cabelos descoloridos e modular a voz entre tons gravíssimos e outros açucarados, Denise acessa algum lugar do espectador que outros artistas muitas vezes tão sensacionais quanto ela não chegam.
E não foi diferente em Preferiria Não?, peça que teve sua estreia nacional no Festival de Curitiba nesta quinta (31) e será reapresentada nesta sexta (1). O público que lotou o Guairinha reagiu a cada provocação de Denise. Riu, se emocionou, aplaudiu de pé. Ela, que fez as vezes do narrador de Bartleby, o Escriturário Uma História de Wall Street, vivenciou e reagiu às negativas do funcionário insubordinado, que negava todos os pedidos do chefe. E suas ordens. Ela se coloca no papel do chefe e tenta convencê-lo a mudar de posição. E ele nega. Uma e outra vez. Se ela é doce, ele nega. Se é ríspida, nega também. E só assim ele consegue despertar a atenção para sua existência, como se a negação ajudasse a tornar a convivência possível.
Nesse jogo do texto, Denise extrai de si o que tem de mais valoroso sua expressividade. Sem perder, tampouco, sua natureza revolucionária. Mesmo no texto clássico, escrito pelo autor norte-americano Herman Melville (1819-1891) em 1953, ela consegue discutir a cultura de consumo da cultura contemporânea.
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