Arteiros na cozinha

O melhor lugar da casa virou estrela de tevê. Há tempos os programas culinários têm lugar cativo na grade da televisão aberta. Mas, geralmente, beiram a monotonia devido ao pouco carisma de seus apresentadores ou porque se utilizam de recursos humorísticos (fantoches ou bonecos) que não são eficientes ao tentar quebrar esse ritmo banho-maria.

Um inglês loirinho e gordinho, por exemplo, virou personalidade televisiva ao apresentar um programa de culinária com bom-humor natural, animação e muita simplicidade. Jamie Oliver, de 38 anos, faz pratos sofisticados, mas não impossíveis. Seu carisma está em cada movimento – ligeiro e preciso –, e nos trocadilhos e opiniões que emite durante os programas Em Casa com Jamie Oliver e Truques de Oliver, ambos transmitidos pelo canal pago GNT (veja horários no quadro ao lado).

Oliver também é baterista – teve uma banda chamada Scarlet Division, nos anos 1990 – e, de vez em quando, realiza um verdadeiro show ao fazer seu programa no palco de teatros lotados. Sim, os atores principais são panelas e frigideiras e a trilha sonora invariavelmente é "Just Start", maior sucesso da finada banda.

O inglês entrou para a escola culinária de Westminster com 16 anos e logo começou a trabalhar com Genaro Contaldo, seu "mentor". Hoje, é reconhecido por usar alimentos naturais e orgânicos. Nos episódios, há várias cenas gravadas em campos, jardins e bosques, em que Oliver utiliza-se de temperos e ervas colhidos ali mesmo, na hora. Em outros capítulos, um cinegrafista o acompanha rumo a uma peixaria: segredos sobre como comprar e escolher os melhores pescados são revelados com espontaneidade.

Sem promover tanto conhecimento especializado – embora com muito mais charme – é o programa da também inglesa Nigella Lawson, de 49 anos. A jornalista cozinha como se estivesse flertando com seu telespectador: abusa de caras e olhares tentadores e quase sempre sua língua salta para além dos limites da boca quando prova algum prato. Por essa postura provocativa, ficou conhecida internacionalmente como a "rainha pornográfica da culinária".

No GNT, o seu programa é o Nigella Express. Há pseudo-histórias em cada episódio: pratos rápidos preparados para amigos que estão a caminho; uma torta de frango é feita enquanto sua filha estuda para a prova de francês; no episódio "Calmantes Instantâneos", Nigella, vestindo largos pijamas, prepara um doce que "alivia o estresse". Esse é outro detalhe: a inglesa não liga para calorias extras e não abre mão de comidas açucaradas. Seu corpo cheinho é a maior prova disso.

Outro que vem mudando os hábitos com música dentro das cozinhas é Gerry Garvin. Fazendo pratos ao som de rap e hip-hop, o norte-americano estreou na tevê em 2004. Ficou conhecido por fazer receitas "super-simples" – "se eu posso fazer, você pode fazer", diz Garvin – e por isso é mais voltado para os solteiros, que querem algo prático e rápido.

Seu jeitão de rapper meio destrambrelhado vem de suas influências adolescentes em Atlanta, onde nasceu. A primeira experiência na cozinha foi aos 13 anos. Desde então, passou por Paris, Hamburgo e outras cidades da Europa. Em seu restaurante, Garvin já preparou um buffet para alguns ilustres clientes, como o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton.