O espaço de exposições da Caixa Cultural abre espaço a partir desta terça-feira (12) para um encontro entre a baixa e a alta cultura. Em “A Viagem Pitoresca”, o carioca Bruno Miguel apresenta pinturas e esculturas que mesclam o kitsch a antiguidades.
Desde que começou a pesquisar um caminho próprio nas artes plásticas, em 2004, o jovem de 34 anos aprecia a ideia de se apropriar de arte e artesanato de outros para sobre eles criar sua interferência.
A mostra traz exemplares de diferentes séries elaboradas ao longo de dez anos em que essa preferência do artista se manifesta de várias formas. “A história pregressa desses objetos é importante para mim”, contou à reportagem.
As obras que recebem o visitante na entrada da galeria são mais explícitas, com pinturas chamativas criadas sobre tapeçarias antigas. Um dos títulos explicita a veia humorística de Bruno: “Mamãe gosta das cores em minhas pinturas”.
Exposição
Bruno Miguel. Caixa Cultural (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Abertura dia 12 às 19h30. Visitação de terça a sábado, das 10 às 20h, e dom., das 10 às 19h. Até 28/2. Entrada franca.
A maneira despojada como ele encara a arte está presente nas outras séries também. Em uma das paredes, o curador Bernardo Mosqueira mostra a evolução do conceito de paisagem nas pinturas de Bruno, num crescendo que chega numa explosão de cores. Essa, aliás, é uma questão com que o artista se debate desde a faculdade, quando um professor lançou a questão: “A pintura de paisagem tem lugar na arte hoje?”
Muitas obras subsequentes de Bruno tentaram responder a essa pergunta.
Os recortes da realidade que ele utiliza em seus quadros passam pelo meio rural e desembocam nas ruas de neon e tráfego intenso, com cenas brasileiras e norte-americanas.
O pop mais gritante está na série “Inter and National Pop Philosophical Musical Greatest Hits”, em que trechos de letras de música dos Mutantes, Pitty e Ira! são pintados sob e sobre o vidro que protege fotografias urbanas feitas por ele.
Sua abordagem da natureza morta é um tanto quanto literal: dentro de uma caixa de vidro, repousam frutas soterradas sob grossas camadas de tinta. Ao longo de quase dois meses de exposição, elas se deteriorarão, sobrando a casca quebrada e oleosa, numa transformação que flerta com a performance.
No meio da sala, esculturas da série “Essas pessoas na sala de jantar” falam de um mundo em que a natureza selvagem já invadiu o interior da civilização – enquanto “A cristaleira” sobrepõe peças usadas de louça em vidro em interessantes esculturas coloridas pelo interior com derramamento de resina.
O consumo, a materialidade e a vida real se mostram presentes numa década de trabalho.
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