“Meus pais me deram o nome Joan por causa de Joan Collins (estrela do novelão americano “Dinastia”). Queriam que eu fosse atriz, imagina?”, diz trecho de “Joan Cornellà – A Life in Pictures”, curta de pouco mais de três minutos em que o controverso ilustrador espanhol ironiza sua biografia, a relação com seus (hoje) quase 4 milhões de seguidores no Facebook e também a com os fãs da vida real.
No vídeo, metido em uma camisa de babados, Cornellà, que participa da Bienal de Quadrinhos de Curitiba este ano (de 8 a 11 de setembro), lida com um fã convertido em ‘assistente’, muitos euros no banco e, cheio de marra, diz: “Eu não me considero humano, sou uma marca, um super-homem dos negócios na internet”.
O vídeo, assim como sua obra, não deve ser levado ao pé da letra. “Insano”, “doentio”, “ultrajante” e “perturbador” são adjetivos aos quais o cartunista já está habituado. Suas tiras, sem diálogos, trazem violência explícita: em toda história, algum personagem certamente perderá um membro, será baleado ou esfaqueado. Mas o desconforto da solidão e dos preconceitos também são escancarados. Sarcasticamente, as histórias vêm embaladas em traços fofos e cores vibrantes, que caberiam bem numa HQ infantil.
Se a popularidade entre os internautas só cresce – e a virtual noção de que seu trabalho é, pela quantidade de curtidas, compreendido – , ele também é alvo de ódio por gente que não entende sua crítica peculiar. Sua página no Facebook é constantemente derrubada por conta de denúncias. Ele também é atacado com frequência – as agressões vão de comentários desancando seu trabalho a francas ameaças de morte.
O sentido das tiras, diz Cornellà, é o público que dá. Se enxergam críticas sociais profundas ou tecem teorias amalucadas, muito que bem. A ideia é os quadrinhos sejam mesmo abertos e possam atingir as pessoas de formas diversas.
Atualmente, ele tem levado o seu trabalho para além da internet e dos livros, em exposições individuais. Hong Kong e Singapura foram duas das cidades asiáticas que receberam a mostra nas últimas semanas, que conta com posteres e ilustrações de tiragem limitada.
Por meio de financiamento coletivo, conseguiu também viabilizar a produção de videozinhos curtos, também no mesmo universo “mundo cão” que as tiras, altamente compartilháveis, já estabeleceram.
Começo
Aos 35 anos e nascido em Barcelona, Cornellà já colaborou em publicações como a revista El Jueves e o jornais Le Monde e The New York Times. Suas principais influências são os quadrinistas underground americanos Daniel Clowes e Robert Crumb e a dupla belga Kamagurka &Herr Seele, da tira Cowboy Henke. Os quadrinhos de super-heróis, porém, nunca foram a sua praia.
Tem quatro álbuns lançados. “Abulio” (2010), “Fracasa Mejor” (2012), “Mox Nox” (2013) e “Zonzo” (2015), que foi lançado no Brasil pela editora Mino em fevereiro último. Os quadrinhos sem palavras, pelo qual ficou conhecido mundialmente, começaram a ser desenhados nesse tempo.
Bienal de Quadrinhos de Curitiba
Segundo entrevistas do ilustrador, os brasileiros são os maiores seguidores nas redes sociais. Ele se junta a outros quatro convidados internacionais já confirmados para a Bienal deste ano, como Jesus Cossio (Peru), Power Paola (Colômbia), Rutu Modan (Israel) e Troche (Uruguai). O evento será de 8 a 11 de setembro.
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