Vassoura, rodo, pincel de parede, balde com água e até mesmo pintura sem pincel fazem parte de algumas das técnicas empregadas pelos artistas plásticos Célia Euvaldo, Elizabeth Jobim, Gabriela Machado e Daniel Feingold em obras expostas na galeria Simões de Assis desde a última terça-feira (26). A mostra vai até 28 de maio.
FOTOS: Confira os artistas da exposição
Cada qual ao seu modo e com a sua técnica, os artistas são unânimes em exibir, em uma composição coletiva, trabalhos sem um conceito ou ideia pré-concebida. Confira a seguir um resumo do trabalho de cada um:
Daniel Feingold
Daniel Feingold apresenta em seu trabalho o que chama de “abstracionismo geométrico não representacional”. Para ele ,“ os lançamentos sobre a tela são uma situação estritamente visual”. A composição das linhas que formam uma estrutura visual similar à de uma grade no quadro são resultados da técnica de distribuição dos traços pretos, que se complementam aos traços em outros tons escolhidos e coordenados por ele.
Para o artista plástico, a coleção “representa o nada”. Entretanto, quem observar atentamente as obras de Daniel pode perceber o dinamismo e o movimento que as tais linhas proporcionam ao expectador. Este efeito é conquistado pelo artista ao derramar a tinta na tela,de modo a criar uma linha através do próprio peso em relação à gravidade. Para ele, a técnica permite a canalização da ansiedade sobre a tela, pois, deste modo, o trabalho flui mais rápido e se torna mais dinâmico.
Célia Euvaldo
As obras de Célia Euvaldo utilizam vassoura e rodo para a pintura. A vassoura dá o relevo à obra, enquanto o rodo estica as linhas perpendiculares na pintura. Esta composição objetiva impactar o público ao representar o movimentação do corpo da artista em uma total liberdade de expressão. Caracterizada pelo uso recorrente do preto e branco em seus trabalhos, Célia prefere uma foto preta e branca à colorida. Para ela, a cor tira a atenção do expectador das formas levando-o a uma sentimentalismo que as cores naturalmente provocam no inconsciente (e que não é a proposta da artista).
As obras de Célia se transformam com a luz, pelo movimento do olhar e do ângulo de visão. Este efeito só é possível pela pintura texturizada com a vassoura nas linhas horizontais e pela liquidez das linhas verticais feitas com o rodo. “O movimento do meu corpo, na extensão dos braços e gestos, está materializado nas formas colocadas nos quadros”, diz.
Gabriela Machado
Gabriela Machado também usa utensílios domésticos, como o balde d’água, na produção da coleção. Diferentemente das obras geométricas e mais estruturadas apresentadas pelos colegas, Gabriela leva adiante a “ideia de que na série a cor venha para o espaço” ao usar muitas cores fluorescentes e cítricas nas telas. Para ela, a composição é resultado do fluxo produtivo e da espacialidade dos materiais que adquiriu ao trabalhar três anos com esculturas.
Com pinceladas leves, coloridas e sem métrica, a pintura é a visão da artista dos blocos de anotação, “aqueles que enchemos de desenhos e rabiscos em momentos enfadonhos ou impacientes”. Ela utiliza tinta acrílica muito diluída (ao invés da tinta óleo, utilizada pela maioria dos artistas plásticos) para que no quadro sejam formadas várias poças de água e, ao acaso, as deixa secando em uma superfície horizontal. Sem nenhum controle ou interferência sobre o resultado final da obra, as cores “entram uma na outra e a junção entre elas acontece sem o meu controle”. O conceito para Gabriela é de que “a potência das cores não seja limitada pelo limites físicos da tela”.
Elizabeth Jobim
Por mais curioso que seja, Elizabeth Jobim utiliza o rolo de pintar parede em uma técnica própria para dar mais refinamento. A filha do compositor de “Garota de Ipanema” apresenta pinturas com sobreposição de cores, em traços sutilmente marcados e visíveis sob diferentes óticas a depender da posição do espectador diante da tela. As obras têm somente uma cor em diferentes tons de uma palheta de cores. “ O trabalho tem uma única cor e esta mesma cor misturada com o branco. A diferenciação que esse tom toma em outros pigmentos é a proposta”, explica. De acordo com a artista, a coleção quer ser somente o que é: uma pintura.
Exposição coletiva
Amigos de longa data, os artistas expõem juntos depois de muitos anos. Com diversidade de linguagens, mas em uma temática única, a exposição também marca o lançamento do livro biográfico de Elizabeth Jobim. Com o título homônimo, a obra foi publicada pela editora Cosac Naify.
Daniel afirma que todos vieram de uma formação inicial sob influência do expressionismo abstrato americano da década de 1950. Entre as características da escola estão o ataque à superfície, a grande escala da pintura e a representação do movimento do corpo do artista.
Segundo os expositores, cada obra complementa a simbologia e o diálogo com a outra. A ansiedade canalizada de Daniel, a liberdade do trabalho de Célia com a simetria do trabalho de Elizabeth aliada à explosão de cores de Gabriela Machado constituem a exposição inédita.
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