A parede de uma casa destruída forma o mapa do Brasil. Há um navio encalhado que não vai mais zarpar. Escombros de um antigo teatro parecem gritar que não há mais lugar para arte. Os restos de uma prisão desativada mostram que ali, ao menos, a dor cessou.
Essas são algumas das imagens que formam a exposição “Ruínas”, a nova mostra individual de Jacob Bensabat, um heterônimo de Orlando Azevedo, que abre na próxima quinta-feira (4), no MuMA.
Veja algumas imagens da exposição “Ruínas”
As obras expostas revelam o entendimento que o fotógrafo tem da própria arte. E também como ele vai direcionar a carreira de quase 50 anos daqui em diante.
Segundo Azevedo, a ideia de “Ruínas” nasce de uma metáfora sobre a própria fotografia. “Toda foto é uma ressurreição de um passado. É o meu olhar sobre essa desconstrução e o ímpeto constante em renascer”, diz.
A exposição reúne 75 imagens impressas em papel algodão. No material selecionado, há fotos tiradas há mais de 30 anos em locais como Sri Lanka e também fotos tiradas há menos de dez dias no antigo presídio do Ahú.
Há ainda registros feitos no arquipélago de Açores, em Portugal onde nasceu e esteve ano passado para “investigar a própria diáspora”.
“Ruínas” marca ainda a primeira vez em que o experiente fotógrafo assume publicamente um dos heterônimos com os quais pretende levar a cabo o projeto de publicar mais dez livros até o fim de sua carreira.
Exposição de fotografias de Jacob Bensabat (heterônimo de Orlando Azevedo). Abertura no dia 4 de fevereiro às 20h no Museu Municipal de Arte de Curitiba – MuMA (Av. República Argentina, 3.430 – Portão), (41) 3329-2801. Até 14 de fevereiro.
Ele admite que a criação do alter ego foi influência de Fernando Pessoa, “meu poeta da vida inteira”.
“Uso o heterônimo para não confundir ninguém sobre uma possível falta de identidade do Orlando Azevedo”, explica, falando de si mesmo em terceira pessoa.
“Ele [Azevedo] é um fotógrafo humanista cuja preocupação principal é a documentação do patrimônio natural e humano.
Um retratista, com muito orgulho.
Porém, existem outras linhas de trabalho que ele não dá conta de seguir sozinho. “Interessa-me tudo o que me perturba”, diz.
Azevedo compara o próprio trabalho com o de seu heterônimo dizendo que, entre as imagens de ruínas, não há figuras humanas.
Mas é possível sentir a presença de pessoas “nos restos e nas sobras”.
“É como se erguessem bandos e matilhas, uivos e rangidos”, diz o fotógrafo.