Um dos maiores tabus dos quadrinhos, a morte do Tio Ben, pode ser revertida pelo polêmico roteirista Dan Slott na saga “Dead no More: The Clone Conspiracy” (Morto não mais: A conspiração dos clones, em tradução livre) que começa no próximo mês nos EUA e deve chegar ao Brasil no próximo ano. Slott é conhecido por mexer no status quo do Homem-Aranha nos últimos 8 anos, cercado de polêmicas com os fãs do Aracnídeo, mas ao mesmo tempo com ótimos resultados nas vendas dos quadrinhos. Mexer na morte mais preservada das HQs deve ser a próxima.
A história é conhecida: Peter Parker ganha os poderes após uma aranha radioativada picá-lo. Usa primeiramente para conseguir fama e dinheiro, ignorando a fuga de um assaltante enquanto se apresentava num show. Horas depois, o mesmo assaltante mata seu tio Benjamin, que o criou após o sumiço dos pais. Com isso, a mensagem “com grandes poderes vêm grande responsabilidade” se torna o mantra do Aranha, agora motivado a combater o crime.
Mortes sempre marcaram a vida do Aranha. Depois do Tio Ben, Peter perdeu a namorada Gwen Stacy, assassinada pelo Duende Verde. Gwen, porém, já reapareceu de diversas formas desde sua morte em 1973, dez anos após a primeira edição da revista: foi clonada, fez parte de uma realidade alternativa dos X-Men e, recentemente, foi sucesso de vendas com a revista Spider-Gwen (que está saindo agora no Brasil, dentro dos títulos do Aranha), uma versão de uma realidade em que Gwen, e não Peter, foi picada pela aranha. Lá, Peter morre.
Mas mexer com a volta de Ben Parker é algo quase inédito, algo que foi ensaiado apenas em realidades alternativas, como recentemente em “Aranhaverso”, ainda nas bancas no Brasil. “Vivemos tempos em que você sempre vê alguém importante morrendo nos quadrinhos: ‘Aqui está alguém que morreu!’ Vamos subverter isso. Aqui teremos pessoas voltando da morte!”, contou Dan Slott ao site americano Entertainment Weekly. Além de Ben Parker, as voltas do Dr. Octopus (morto na saga “Homem-Aranha Superior”) e de personagens menores são especuladas.
Dead no More: The Clone Conspiracy
Ed. Marvel
Desenhista: Jim Cheung
Roteiro: Gerry Conway e Dan Slott
Preço: US$ 3,99 (site ou app da Marvel)
A culpa é da Dolly
Na década de 90 o assunto clonagem estava em alta na ciência mundial. A Marvel decidiu resgatar uma história de 1973, com roteiros de Gerry Conway, em que o Chacal, vilão ligado à modificações genéticas, clonava o corpo de Gwen Stacy e de Peter Parker. O vilão era o professor Miles Warren, obcecado pelo romance entre os dois. Ele descobriu a identidade do Aranha e decidiu se vingar, pois era apaixonado por Gwen. A falsa Gwen sumiu e nunca mais se ouviu falar dela. O Aranha clone e o verdadeiro lutaram e apenas um saiu vivo, obviamente, o verdadeiro. Pelo menos era o que se pensava até 1994.
Tom DeFalco trouxe o clone de volta à cena na discutida “Saga do Clone”. Nela, descobriu-se na verdade que o clone é quem tinha ganhado a luta e seguido como Aranha por todos esses anos, enquanto que o verdadeiro sobreviveu à luta, adotou o nome de Ben Reilly e tocou a vida, até decidir voltar a Nova York. A saga começou bem, mas o sucesso fez com que a Marvel quisesse esticar o enredo por conta das vendas. O roteiro se tornou confuso. O novo Aranha substituiu o velho por algumas edições, mas a rejeição foi enorme. Peter voltou, provou que era mesmo o Aranha e Reilly sumiu por uns tempos, até se tornar um personagem secundário e morrer recentemente. Com Gerry Conway de volta aos roteiros do Aranha desde 2015, compartilhados com Dan Slott, a ideia ressurgiu. Agora com nova roupagem.
“Vamos pensar: se você é um vilão como o Chacal e você consegue melhorar suas habilidades científicas, o que seria mais importante do que ficar clonando Gwens e Peters? O que ele pode fazer com conhecimentos científicos impressionantes?”, Slott deixa no ar. Embora a saga em si só comece em outubro, “A Conspiração dos Clones” já terá sinais na edição de julho – como é do estilo de Slott, deixando pontas soltas para os leitores mais atentos.
Polêmico e revolucionário
Dan Slott divide os fãs do Homem-Aranha. Pegou a difícil tarefa de assumir o título depois de J. Michael Straczynski (conhecido do público de TV pelos trabalhos em Babylon 5 e Sense 8), que teve muito sucesso com a colaboração do Aranha em Guerra Civil (nos quadrinhos com roteiro diferente dos cinemas), quando Peter Parker pela primeira vez revelou sua identidade ao Mundo – algo omitido no filme, por conta do contexto. Resolveu ousar. Revoltou fãs, mas obteve ótimos índices de vendas, com ideias polêmicas e roteiros bem amarrados.
Foi o responsável pelo reboot do personagem, quando em “Um Dia a Mais”, acabou com o casamento entre o Aranha e Mary Jane – algo que a Marvel desejava, uma vez que o público mais jovem não se identificava com um herói trintão e casado. Depois, fez com que o Dr. Octopus assumisse o comando da mente de Parker, transformando o Aranha em um herói mais violento, atormentado por dilemas éticos, porém muito mais pragmático, a ponto de enriquecer com a abertura de uma multinacional na área de tecnologia, algo que o Parker original, pacato, jamais ousaria. Matou Octopus e reuniu diversas versões do Homem-Aranha, incluindo o robô japonês “Supaidarman”, licenciado pela Marvel numa tentativa de ganhar o mercado de TV do Japão nos anos 80, na saga Aranhaverso. E, por fim, transformou Peter Parker numa espécie de Batman + Homem-de-Ferro: um milionário herói das ruas, cercado de tecnologia, deixando para Miles Morales, o Homem-Aranha negro e latino, a missão de ser o Aranha jovem e pobretão, como nas origens do personagem nos anos 60. Agora, pode estar quebrando outro tabu, ressuscitando Ben Parker.
“Vai ser uma saga que vai permitir que novos fãs entendam que é um marco, bem como irá tocar os fãs do Aranha de uma vida toda”, disse Slott, “Vai pegar o leitor pelas mãos e levá-los diretamente ao inferno”, promete.
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