Reformado e reaberto em 2009, o Paço da Liberdade chegou a seu centenário no último dia 24 de fevereiro. Como espaço cultural, já coleciona suas próprias cenas, como a imagem da Virada Cultural que rodou a internet em 2011, mostrando uma multidão apinhada na Generoso Marques sem colocar um pé nos canteiros do Paço.
Mas ainda não é um endereço que os taxistas conheçam de imediato.
E ainda há quem vá parar na administração procurando os santos, reconhece a gerente executiva do Sesc Paço da Liberdade, Celise Niero.
A unidade foi instalada com a missão de intervir na deterioração da região por meio de ações culturais e educacionais, em socorro de comerciantes encurralados pela “praça de guerra” que o prédio passou a representar quando foi abandonado.
Com tudo o que isso tem de complexo: a instituição atuaria em um local que Celise gosta de comparar a “uma rede intrincada” – uma comunidade de comércios ligados a múltiplas etnias, fluxos intensos de passageiros das várias linhas de ônibus da região, movimentações de prostituição e tráfico de drogas, público em potencial com concepções de cultura bem diferentes das propostas por seus coordenadores.
Para parte dessa vizinhança, nada do que aconteceria no espaço cultural interessaria. Para outra, uma programação de debates sobre linguagens contemporâneas interessaria menos que cursos de artesanato ou grandes eventos para atrair a clientela de Natal.
“Eu costumava visitar mais quando era o Museu Paranaense”, disse um comerciante à reportagem.
O trabalho, conta Celise, tenta conciliar todas essas frentes. De um lado, atraindo a comunidade universitária, mais ligada à UFPR, em eventos de maior visibilidade; de outro, oferecendo suporte a estudantes que trabalham no comércio local, e fazendo trabalhos em escolas. Ela atribui a um projeto de educação patrimonial o fato de o Paço da Liberdade jamais ter sido pichado desde sua reinauguração, por exemplo. E também as visitas de um público novo, que vai ao Centro pagar carnês em redes varejistas e acabam sendo levados para lá.
Gente que passou por ali – por cursos, pela biblioteca, pela sala de informática –, aos poucos, vai voltando. Os números de uma pesquisa interna são animadores: entre 2009 e 2016, a estatística dos que entram no Paço e perguntam que diabo funciona ali caiu de 75% para 32%, revela Celise. Mas, do observatório privilegiado que são as janelas do Paço, ela ainda vê muita gente passando direto, fazendo o sinal da cruz.
Velas para tiradentes
Antes de virar um fantasma da degradação do Centro de Curitiba durante a fase de museu abandonado, de 2002 a 2006, o Paço da Liberdade foi lugar de passagem de gente importante nas memórias de quem conviveu com o prédio nos tempos de prefeitura, entre 24 de fevereiro de 1916 e novembro de 1969. Caso de Luciano Ribeiro Sant’Anna, funcionário aposentado da prefeitura que se enche de orgulho ao citar os passageiros que teve como cabineiro do elevador do Paço, o primeiro da cidade. E que se diverte ao falar de gente que acendeu velas para uma estátua de Tiradentes, achando que estava numa igreja.
Programação
Artes Visuais
Para inaugurar as celebrações dos 100 anos, a exposição “Múltiplos Instantes – Croquis do Paço da Liberdade”, em cartaz desde a última quarta-feira (24), reúne imagens com memórias importantes do prédio. A mostra marca também o lançamento do livro “Impressões – Diários Gráficos do Paço da Liberdade”, com organização de Celise Helena Niero e José Marconi Bezerra de Souza. A publicação reúne 250 ilustrações do grupo “Desenhadores de Rua”, que presta uma homenagem aos poetas paranaenses Solda, Edu Hofmann e Rodrigo Garcia Lopes.
Música
Intitulada 100+, a programação musical do centenário, ainda sem datas divulgadas, vai celebrar a obra de vários artistas brasileiros. A banda Maxixe Machine abrirá a série com uma homenagem à Gilberto Gil. A apresentação também relembrará a primeira transmissão ao vivo de música brasileira pela internet, quando Gil cantou “Pela Internet” na sede da IBM, no Rio de Janeiro, em 1996. Todos os projetos 100+ contarão com a participação de artistas paranaenses como Conde Baltazar, Endrigo Bettega e Ricardo Silveira. Além de Gil, serão homenageados Chico Buarque, Titãs, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana e Ernesto Maria dos Santos, o Dunga – compositor do primeiro samba registrado na Biblioteca Nacional, em 1916.
Cinema
Tema do projeto “Frame a Frame”, o centenário do Paço será objeto de estudo dos alunos da rede pública de ensino durante as oficinas de audiovisual. A partir das celebrações dos 100 anos, os participantes do projeto criarão roteiros e entrarão em contato com noções teóricas e técnicas da produção cinematográfica.
Movimentação política
Jorge Derviche Filho, de 61 anos, dono de um armarinho que está na Praça Generoso Marques desde 1943, se lembra do prédio como centro de um ambiente de movimentação política. Do período do Museu Paranaense, que se mudou para o Paço em 1974, guarda na memória um espaço movimentado, integrado ao calçadão da Rua XV de Novembro, que saiu mais ou menos na mesma época e levou seus domos roxos à praça.
História
Relembre alguns fatos do centenário do Paço da Liberdade:
1916 - Depois de dois anos de construção na praça do antigo Largo do mercado, Paço Municipal é inaugurado como sede da prefeitura.
1948 - É integrado ao patrimônio histórico e artístico de Curitiba. Passa a ser chamado oficialmente de Paço da Liberdade
1966 - Prédio é tombado na esfera estadual.
1969 - Prefeitura de Curitiba se muda para o Centro Cívico.
1970 - Prédio sedia temporariamente o Projeto Rondon e entra em reforma.
1974 - Passa a sediar o Museu Paranaense.
1984 - É tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e se torna o único imóvel de Curitiba protegido nas três instâncias.
2002 - Museu Paranaense deixa o imóvel, que permanece sem uso até 2006.
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