Há muitas coisas maravilhosas a respeito da França durante a primavera: as flores desabrochando no Jardim de Luxemburgo, os parisienses andando a passos lentos ao longo da Promenade Plantée, as verdes florestas ao redor do Castelo de Chenonceau no Vale do Loire e os fabulosos ingredientes que chegam às mesas dos restaurantes de Paris. Mas minha viagem recente à Paris me lembrou de quão completamente horrível pode ser tentar ver algumas das maiores obras de arte do mundo – lembrança que é um efeito recorrente de viagens ao exterior ultimamente.
No Louvre, meu marido e eu nos infiltramos brevemente por entre a multidão ao redor da “Venus de Milo” e pulamos completamente a “Mona Lisa” em favor da “Virgem das Rochas” de Leonardo da Vinci. E depois de enfrentar as massas ao redor da “Vitória de Samotrácia”, que é mais fácil de se ver do que suas companheiras igualmente famosas graças ao seu posicionamento em uma grande escadaria, nós fugimos para a maravilhosa – e vergonhosamente pouco frequentada – ala de Arte Islâmica.
Os problemas com o controle do número de frequentadores que o Louvre enfrenta não são exclusivos dessa instituição: no Rijksmuseum, em Amsterdam, você tem de batalhar ao longo do caminho até “A Ronda Noturna” de Rembrandt por através da multidão de pessoas se aglomerando ao redor na esperança de tirarem uma selfie com a obra monumental, o que ao menos te dá a oportunidade de demorar seu olhar sobre todos os rostos magníficos pintados por Rembrandt.
Ainda que eu fique frustrada em tentar contemplar arte por através de um burburinho de telefones celulares, não posso exatamente culpar ninguém pelo impulso de tirar uma foto de uma grande obra. (Pessoas que tiram fotos com tablets em museus, por outro lado, são os maiores monstros da história.) Vivemos em um momento em que uma experiência poderia muito bem sequer ter acontecido a não ser que tenha sido documentada e transmitida o mais amplamente possível. Mas é completamente exaustivo e desencorajador que museus não tenham encontrado uma maneira de balancear as demandas dos frequentadores de museu que querem tirar fotos das obras e das pessoas que querem realmente contemplá-la com seus olhos ao invés de por através de uma lente.
O advento de telefones celulares e câmeras digitais pode ter mudado o que multidões fazem quando chegam perto de obras de arte famosas, mas as multidões em si, e as dificuldades que os museus enfrentam ao lidar com elas, não são exatamente tópicos novos.
Em 1907, o Louvre pôs a “Mona Lisa” sob um painel de vidro depois que outro quadro foi vandalizado, uma decisão que “tem deixado inconsolados os amantes da arte, que afirmam que o efeito da pintura é arruinado pelos reflexos e luzes falsas”, relatou o New York Times. O quadro foi roubado em 1911 e, após ter sido recuperado em 1913, foi exibido na Itália antes de voltar para casa, na França. “Era tão grande a pressão da multidão ao redor” da Galeria Brera em Milão “que cerca de 200 policiais tiveram dificuldade em preservar a ordem.”
Quando os Khrushchevs visitaram a França em 1960, a Madame Khrushchev se comportou bastante como o fazem turistas modernos no Louvre: “O tour pelo museu deixou pouco tempo para contemplação”, escreveu um correspondente. “Ela parou apenas para algumas poucas das obras principais – tais como a Venus de Milo, a Mona Lisa e a coroa de Napoleão.” E quando o governo francês finalmente permitiu que o quadro fosse exibido nos Estados Unidos, em 1963, “a mãe do presidente, a Sra. Joseph P. Kennedy, não conseguiu se espremer por entre a massa, então ela procurou um lugar para se sentar em uma galeria lateral.” Mais de um milhão de pessoas visitaram a “Mona Lisa” quando ela entrou em exibição no Museu de Arte Metropolitano em Nova York mais tarde naquele ano.
Mandar obras como a “Mona Lisa” em turnê pode ajudar a dispersar as multidões no Louvre ao permitir que mais pessoas vejam a peça em seus países de origem. Mas representantes do Louvre já disseram que o quadro não vai viajar; é simplesmente frágil demais para suportar viagens transoceânicas.
Então o que pode ser feito?
Que tal espaços dedicados a obras importantes? A Ala Sackler no Museu de Arte Metropolitano em Nova York, que abriga o Templo de Dendur, é um dos mais magníficos espaços de exibição que existem. Mas funciona por causa do tamanho do templo; mesmo que a “Mona Lisa” fosse exibida em uma sala maior, ou mesmo se a “Venus de Milo” tivesse uma galeria dedicada a ela, essas obras não são monumentais; você ainda iria querer chegar razoavelmente perto delas para contemplá-las.
Isso deixa ingressos cuidadosamente agendados como a maneira mais realista de se diminuir as multidões ao redor das exibições mais populares. Isso acrescenta complexidade logística e potencialmente custos extras a uma viagem a um museu como o Louvre, onde as tarifas de entrada já começam em 15 euros (cerca de 17 dólares). Dar aos visitantes um intervalo de tempo limitado com uma obra, independentemente de eles quererem contemplá-la ou simplesmente documentar que estiveram ali, pode não parecer justo. Mas as imensas multidões atuais não estão servindo a ninguém, seja seu objetivo conseguir um clique digno de Instagram em um mar de outras câmeras, seja uma comunhão íntima com uma senhorita com um sorriso enigmático.
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