No universo dos quadrinhos, grandes parcerias nasceram entre roteiristas que não sabem nem rabiscar o próprio nome e desenhistas que costumam guardar suas ideias na gaveta. Não é exatamente o caso dos gêmeos paranaenses Marcelo e Magno Costa, 39 anos, que têm ganhado seu espaço no cenário das artes gráficas nos últimos anos.
Ambos dão seus pitacos em arte e história, mas têm preferências declaradas e tiveram a sorte de dividir a infância com quem viria a ser um cúmplice na produção dos quadrinhos. Em 2017, eles apresentam ao grande público sua versão para o Capitão Feio, vilão cheio de nuances da Turma da Mônica, em um dos lançamentos da coleção graphic MSP, que adapta personagens de Mauricio de Sousa. Rogério Coelho e Bianca Pinheiro, de Curitiba, foram outros paranaenses que participaram.
Magno é o homem dos roteiros enquanto Marcelo se sente mais confortável nos traços. Às vezes as preferências se encontram, mas, ao menos quando trabalham juntos, a divisão costuma ser mais clara. Tem sido assim com o “Feio”, que deve ser lançado na próxima Comic Con Experience (CCXP), em dezembro de 2017. “Magno é o cérebro e eu sou a força”, define Marcelo.
Os Costa são um caso clássico de meninos que eram malucos por super-heróis, desenhavam e imaginavam histórias, mas viveram grande parte da vida adulta em outras atividades mais tradicionais, distantes da criação. “A gente não tinha uma visão sobre ser profissional de quadrinhos. Foi apenas brincadeira por grande parte do tempo”, conta Marcelo.
O Capitão Feio, personagem nem tão conhecido da Turma da Mônica, foi um segredo guardado por meses, até ser anunciado oficialmente na CCXP deste ano. Além do Super-homem e dos X-Men que os dois adoravam, Mauricio de Sousa também foi um nome imprescindível na formação dos irmãos nascidos em Ouro Verde.
Os detalhes do projeto são ainda segredo, mas os irmãos têm nas mãos a possibilidade de trabalhar com um personagem interessantíssimo, criado por Marcio Araujo, irmão de Mauricio, nos anos 1970.
As camadas possíveis do Capitão Feio animam os irmãos Costa. “É um cara maltratado e incompreendido”, comenta Marcelo. “Ele tem um humor particular. E não é um vilão típico. Ele tem um fraco pelas crianças, por exemplo”, afirma o irmão roteirista.
Histórico
Magno e Marcelo saíram do interior do Paraná com os pais e os dois irmãos mais velhos e, depois de um período no Centro Oeste, se basearam no ABC paulista no início da adolescência. Viveram os revezes dos pacotes econômicos da era Collor e eram cautelosos com as aspirações artísticas até perceberem que uma geração de desenhistas, quase da mesma idade, estava surgindo. O ano era 2008.
“Nós só fomos impulsionados quando percebemos uma onda de quadrinhos de caras como Fábio Moon e Gabriel Bá (também gêmeos, ganhadores de dois prêmios Eisner) e Rafael Coutinho (da graphic novel “Cachalote”, produzida com o escritor gaúcho Daniel Galera)”, conta Marcelo.
Marcelo Costa
Autor preferido: Grant Morrisson
Desenhista preferido: James Harren
Influências: Katsuhiro Otomo
Personagem preferido: Wolverine
Revista/livro preferido: Maus
Magno Costa
Autor preferido: Chris Ware
Desenhista preferido: Frank Quitely
Influências: quadrinistas franceses como Guillaume Singelin, Christophe Blain e cinema independente
Personagem preferido: Superman, dos quadrinhos antigos e do filme de 1978
Revista/livro preferido: Jimmy Corrigan - O Menino Mais Esperto do Mundo
Gêmeos quadrinistas conquistaram prêmio já na estreia
Magno e Marcelo Costa ganharam HQ Mix de novo talento em 2012
O início foi singelo. Marcelo pediu a Magno que escrevesse uma história para que ele desenhasse. “Mostrei uma ideia, mas o Marcelo odiou de cara”, ri o irmão roteirista. “Só que naquele dia mesmo começou a me mandar já alguns desenhos”. Essa foi a maneira de Marcelo mostrar que tinha aprovado o argumento de “Oeste Vermelho”, protagonizada por ratos e gatos, espécie de “Maus” do faroeste. Muito embora Marcelo rejeite a referência. “Não tem como comparar. Coloco ‘Maus’ em um altar”, diz, sobre o título de Art Spiegelman, um conto ilustrado do Holocausto. Fizeram o livro com calma. Magno entregava uma página por vez para o irmão ilustrar. Quatro anos depois, em 2012, ganharam o HQ Mix de novo talento.
A parceria se repetiu em graphic novels independentes como “Matine” e “2048”, mas foi com “A Vida de Jonas”, que os dois alcançaram outro patamar. O álbum foi idealizado como uma nova parceria, mas aos poucos ficou claro que era um projeto muito pessoal de Magno, que assumiu também os desenhos. “Mostrou o quanto ele amadureceu como roteirista e abriu muitas portas. ‘Jonas’ é uma história muito humana, diferente do que a gente tinha feito até então”, acredita Marcelo, que coloriu o livro para o irmão.
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