Quando os fotógrafos profissionais ainda usavam filmes, antes das máquinas digitais, as folhas de contato – também chamadas de “copião” – eram usadas para selecionar imagens. Era assim que todos os quadros de um filme podiam ser analisados lado a lado e somente o que passava pelo crivo do fotógrafo era ampliado e publicado.
A série “Contatos”, lançada pelo Instituto Moreira Salles, soma três DVDs com dezenas de pequenos documentários – cada um tem mais ou menos dez minutos de duração – em que figuras geniais da fotografia expõem seus copiões e explicam por que uma imagem específica foi escolhida em detrimento de outras. A trilogia se divide em temas: “A grande tradição do fotojornalismo”, “Renovação da fotografia contemporânea” e “Fotografia conceitual”.
Os filminhos representam uma oportunidade única de ver o processo de trabalho de grandes profissionais, entender o contexto de cada fotografia e aprender e ler imagens.
“Um fotógrafo nunca deve mostrar suas folhas de contato porque as pessoas podem tirar conclusões erradas ou, pior, conclusões certas”, diz Elliott Erwitt em um dos documentários.
Klein
A ideia para a série de documentários de curta-metragem partiu de William Klein, ele mesmo fotógrafo e um dos personagens de “Contatos”. Os filmes mais antigos, parte do primeiro DVD, “A grande tradição do fotojornalismo”, foram realizados na primeira metade dos anos 1990. No segundo DVD, “Renovação na fotografia”, a série ocupa a segunda metade da década de 1990 e avança até os anos 2000. O terceiro volume, de “Fotografia conceitual”, está para ser lançado pelo Instituto Moreira Salles.
Talvez ele se refira ao fato de que a sequência de imagens revela que o fotógrafo, além de estar na posição certa, de ter o olhar para reconhecer o que tem valor e de dominar a técnica, conta também com ao acaso. Não é à toa que ele – o acaso – é citado várias vezes ao longo dos 12 filmes do primeiro DVD, que se concentra em fotojornalistas com carreira na lendária agência Magnum. “Cada foto é um acaso”, diz Edouard Boubat.
Olhando para um de seus trabalhos, Erwitt faz um comentário engraçado: “Qualquer orangotango bem treinado teria feito uma boa foto desse momento”.
Série de três DVDs produzida pelo Instituto Moreira Salles (IMS). Cada um deles custa R$44,90. O terceiro volume, sobre fotografia conceitual, deve ser lançado em breve. Os discos estão à venda em livrarias e na loja do IMS (lojadoims.com.br).
Não é bem assim.
“Não tive nenhum mérito, a não ser o de estar lá”, diz Robert Doisneau, dono do melhor episódio do primeiro disco. Doisneau mostra um copião em que encontrou um grupo de homens instalando uma estátua em um parque. O detalhe é que a escultura, inspirada em Vênus, era de uma mulher com os seios nus, nem pequenos, nem grandes.
Para mover a estátua, dois dos homens do grupo a seguravam com bastante cuidado – pelos seios. E a beleza da imagem é que eles parecem alheios ao fato de que a cena tinha um tanto de sensualidade. A inocência e praticidade deles, somada à beleza altiva da estátua, geram um efeito bom: é quase impossível não sorrir ao olhar para a imagem. Mas não porque ela é engraçada e sim porque é surpreendente.
Outra analogia que os fotógrafos usam mais de uma vez para falar de suas folhas de contato é com a psicanálise. Para Henri Cartier Bresson: “A folha de contato é um pouco como o divã dos psicanalistas”. Ela tem que permanecer confidencial, diz Erwitt, “como as palavras ditas ao psicanalista ou num confessionário”.
Nos filmes, a quantidade de frases reveladoras e comentários esclarecedores sobre a fotografia é tão grande que fica difícil não tomar notas o tempo todo. Dizem que o mundo hoje é dominado por imagens. Nesse contexto, aprender a ver é fundamental. E é isso que a série “Contatos” faz e não só para quem tem ambições fotográficas: ela ensina a ver.
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